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Capítulo 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência

Página 199
A mão é indiscreta; e a razão, se se descuida, está sendo atraiçoada, quando menos o pensa, por estes automáticos movimentos, que parecem sem significação.

Olhai por cima do ombro do homem absorvido em graves pensamentos, cuja mão move ao acaso a pena sobre uma folha de papel; entre muita coisa insignificante, é raro que uma ou outra palavra, ou outro sinal não simbolize, não denuncie a ideia dominante que o possui.

Esse outro motor ou princípio, que nos domina as acções, quando a consciência as não regula e dirige, parece ter, como a alma, uma memória também. Exerce-a sobre as particularidades insignificantes que acompanham qualquer acontecimento de importância para o nosso destino. Impressionou-nos uma revelação? Quando o pensamento se estiver ocupando dela, a memória do outro reproduzirá a maneira de trajar da pessoa de quem a ouvimos, a cor das paredes do aposento onde a escutámos, uma frase dita simultaneamente por um homem que passava. Ora, muitas vezes, estes acessórios têm ainda bastante analogia com o facto principal, para que um espírito investigador, sabendo-os, possa ir por eles, de dedução em dedução, até ao fundo dos nossos pensamentos.

Daí vem o perigo de confiar, em tais momentos, a pena da mão, que se move sob a vontade deste guia, o qual não tem a discrição necessária para não deixar no papel vestígios das suas curiosas memórias.

Era o que estava sucedendo a Carlos.

Principiou por desenhar, distraidamente, um elmo; isto parece nada ter que ver com as prováveis cogitações do seu espírito, naquele momento. Cumpre-me, porém, declarar que na ocasião em que no teatro, pela primeira vez, Carlos reparou em Cecília, passava por diante dele um indivíduo, embrulhado em um manto romano e com um elmo exactamente semelhante ao do desenho.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 199

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432