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Capítulo 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência

Página 202

Vamos agora a casa de Manuel Quintino, onde nos encontraremos com antigos conhecimentos.

Ao voltar do teatro, contara Manuel Quintino à filha, não só o enredo da Lucia, que não pudera concluir no camarote, mas todos os principais sucessos da noite; esqueceu-lhe porém o episódio do lenço, ao qual não dera importância.

Cecília escutou-o calada. – Dir-se-ia que já a impacientava ouvir tantas vezes falar em Carlos; porque, de facto, parecia propósito formado em Manuel Quintino o ter sempre que contar do rapaz, desse estouvado, a quem, apesar de todos os estouvamentos, o bom homem queria deveras.

A julgar pela aparência de ligeira mortificação que tomava nesses instantes o rosto de Cecília, devia supor-se que existia nela uma forte antipatia para com o predilecto do pai. – Mas será prudente não confiar demasiado no rigor lógico destas deduções fisionómicas, e muito mais em mulheres.

No dia seguinte, pela manhã, ao partir para o escritório, Manuel Quintino não deixou a filha menos melancólica do que nos anteriores; até lhe pareceu mais falta de cor. Falta de cor! Deus sabe os íntimos e dolorosos estremecimentos que estas palavras desafiam no coração de um pai! São para ele as faces rosadas de uma filha, como o firmamento para estas organizações impressíveis em excesso, onde, ao toldar-se de nuvens o céu, se projectam as sombras da tristeza; onde, quando ele ostenta um azul sem mácula, se reflecte a luz das alegrias.

Imagine-se o cuidado com que devia partir o bom homem.

Que tratos não dava à memória! Que concepções mais ou menos extravagantes! Que minuciosas investigações sobre todos os seus próprios actos e palavras não vinha fazendo pelo caminho, só para descobrir a causa daquela mal disfarçada melancolia! E tudo em vão!

No

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 202

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432