Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 19: XIX - Agravam-se os sintomas

Página 223
Há exemplos até de alguém quase se chegar a convencer de que ama uma mulher, só à força de lho repetirem.

Mais desculpa tinha, contudo, Carlos; porque não era Jenny sujeita a formar juízos levianos, nem a exprimir suspeitas e receios que não tivessem fundamento.

Por isso tudo, saiu ele do quarto da irmã muito pior do que viera. – E perdoem-me as leitoras, se chamo piorar ao progredir no caminho do amor; não lhe chamaria por certo assim, se não fosse o cortejo de contrariedades que de ordinário acompanha esta paixão.

O resto do dia passou-o Carlos no quarto, em completa ociosidade.

Ociosidade! E poderá dar-se tal nome a esses longos intervalos de repouso aparente, em que descansam os músculos, mas em que o cérebro executa porventura os seus mais violentos e fadigosos exercícios? – Se o leitor tem a infelicidade de não possuir um destes espíritos frios que, sem cessar, absorvidos pelo cumprimento dos deveres da vida positiva, não sentem a necessidade de sacudir, de quando em quando, o jugo, para correrem por domínios mais propriamente seus, dirá se era ociosidade aquilo.

Desde esse dia, a vida de Carlos ia entrar em uma daquelas fases, que ao romancista, não resolvido a iluminar os seus quadros de outra luz, que não seja a da realidade, levantam sérios embaraços.

Quando uma paixão sincera domina o coração do homem, exalta-se, sublima-se nele o que é a vida subjectiva; mas a vida exterior, a aparente, a que só avulta para quem não possui olhos que vejam e coração que entenda o coração deste homem, essa baixa ao nível das puerilidades.

Quando a dignidade varonil, o empertigamento masculino se conservam irrepreensíveis e intactos no auge de uma paixão, é de recear sempre pela sinceridade dela.

Tudo quanto é convencional esquece então.

<< Página Anterior

pág. 223 (Capítulo 19)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 223

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432