Há exemplos até de alguém quase se chegar a convencer de que ama uma mulher, só à força de lho repetirem.
Mais desculpa tinha, contudo, Carlos; porque não era Jenny sujeita a formar juízos levianos, nem a exprimir suspeitas e receios que não tivessem fundamento.
Por isso tudo, saiu ele do quarto da irmã muito pior do que viera. – E perdoem-me as leitoras, se chamo piorar ao progredir no caminho do amor; não lhe chamaria por certo assim, se não fosse o cortejo de contrariedades que de ordinário acompanha esta paixão.
O resto do dia passou-o Carlos no quarto, em completa ociosidade.
Ociosidade! E poderá dar-se tal nome a esses longos intervalos de repouso aparente, em que descansam os músculos, mas em que o cérebro executa porventura os seus mais violentos e fadigosos exercícios? – Se o leitor tem a infelicidade de não possuir um destes espíritos frios que, sem cessar, absorvidos pelo cumprimento dos deveres da vida positiva, não sentem a necessidade de sacudir, de quando em quando, o jugo, para correrem por domínios mais propriamente seus, dirá se era ociosidade aquilo.
Desde esse dia, a vida de Carlos ia entrar em uma daquelas fases, que ao romancista, não resolvido a iluminar os seus quadros de outra luz, que não seja a da realidade, levantam sérios embaraços.
Quando uma paixão sincera domina o coração do homem, exalta-se, sublima-se nele o que é a vida subjectiva; mas a vida exterior, a aparente, a que só avulta para quem não possui olhos que vejam e coração que entenda o coração deste homem, essa baixa ao nível das puerilidades.
Quando a dignidade varonil, o empertigamento masculino se conservam irrepreensíveis e intactos no auge de uma paixão, é de recear sempre pela sinceridade dela.
Tudo quanto é convencional esquece então.