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Capítulo 19: XIX - Agravam-se os sintomas

Página 224

Ora, no homem mais grave e sisudo, há sempre escondida a crença de outros tempos. O elemento pueril não morre nunca de todo em ninguém. A arte social aplica-se com afã a ocultar das vistas alheias esse legado da infância; os mais sisudos são os que melhor o conseguem; mas basta um descuido de momento, uma distracção, e ele aí vem à superfície.

Assim se explicam as proverbiais canduras dos matemáticos e dos amantes.

Os jogos foram também inventados por esse motivo. Fingiu-se acreditar que era uma coisa grave o wist, o voltarete, o boston, etc., etc., para qualquer pessoa poder, em público, entregar-se a eles, sem ofensa da sisudez convencional; porque, se se não fizessem estas concessões à criança humana, que às vezes tem impertinências, corria-se o risco de mais escandalosas rebeliões da parte dela.

Mas, como dissemos, uma paixão verdadeira, uma dessas cada vez mais raras paixões, nas quais o prazer de amar luta, em intensidade, com o de ser amado, absorve muito o espírito, para que ele possa exercer a vigilância precisa sobre a travessa criança de que falámos.

E, a não haver indulgência da parte de quem espia estas quebras de seriedade, a vítima da paixão corre o perigo de ser menos bem olhada.

Por isso temo fazer crónica do que se passou em Carlos, nos dias sucessivos à conferência que teve com a irmã; porque, em tudo, pouco se nos deparará digno de um herói de romance.

Apelo, porém, para as reminiscências dos leitores, para depois, sendo necessário, parodiar a defesa de Cristo à pecadora.

Um dos primeiros fenómenos manifestados em Carlos foi uma súbita timidez, nele verdadeiramente excepcional; uma perfeita timidez de criança; completo contraste com os seus passados arrojos, que ainda o haviam acompanhado na primeira visita feita a Cecília.

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pág. 224 (Capítulo 19)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 224

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432