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Capítulo 20: XX - Manuel Quintino procura distracções

Página 237

– E então o pai há-de ficar só?

– Eu… estou bem assim…

– Isso é que não – replicou Cecília. – Irei, se me promete que vai dar um passeio também.

– Pois sim, sim. Tudo se há-de arranjar. Lá por isso não seja a dúvida.

– Mas então vista-se.

– Deixa-me descansar.

– Eu não saio, sem o ver sair.

Manuel Quintino foi obrigado a condescender.

Estava intimamente persuadido de que era vantajoso para a filha passar aquela tarde com alguém que a distraísse; porque ele, nas tristes disposições de espírito em que se sentia, não via bem como o fizesse.

Saiu, pois, para obrigar Cecília a sair, e, ao mesmo tempo, ia em busca de distracções também.

Era um excelente homem Manuel Quintino, mas dotado de pouca penetração para investigar o enigma da tristeza de uma rapariga de dezoito anos. O seu excessivo amor de pai não o deixava ver claro nisto. Tudo se lhe figurava presságio de doença, e essa ideia fixa privava-o da necessária frieza para ver claro nestas coisas.

Cada manhã, ao acordar, era um pensamento negro o primeiro que se lhe apossava do espírito – «Irei encontrar Cecília com doença declarada?» – pensava ele.

Todas as tardes, ao voltar a casa, em vez de tremer com o antecipado prazer de encontrar e abraçar a filha, tremia com o susto de a vir achar enferma.

Por mais que fizesse para tirar aquilo da ideia, não o podia conseguir. Dormindo, inquietavam-lhe os sonhos; comendo, vertia-lhe fel na comida; trabalhando, distraía-lhe a atenção do trabalho.

Os amigos do guarda-livros viam-no com olhos inquietos e murmuravam, uns com os outros, na ausência dele:

– Este pobre Manuel Quintino tem coisa que o rala.

– Está acabado, está.

– Se assim continua, bem pode o Sr. Richard ir lançando as vistas sobre outro caixeiro, porque este…

Nesta tarde fez Manuel Quintino um esforço desesperado para sair daquele sobressalto em que andava.

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pág. 237 (Capítulo 20)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 237

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432