– E então o pai há-de ficar só?
– Eu… estou bem assim…
– Isso é que não – replicou Cecília. – Irei, se me promete que vai dar um passeio também.
– Pois sim, sim. Tudo se há-de arranjar. Lá por isso não seja a dúvida.
– Mas então vista-se.
– Deixa-me descansar.
– Eu não saio, sem o ver sair.
Manuel Quintino foi obrigado a condescender.
Estava intimamente persuadido de que era vantajoso para a filha passar aquela tarde com alguém que a distraísse; porque ele, nas tristes disposições de espírito em que se sentia, não via bem como o fizesse.
Saiu, pois, para obrigar Cecília a sair, e, ao mesmo tempo, ia em busca de distracções também.
Era um excelente homem Manuel Quintino, mas dotado de pouca penetração para investigar o enigma da tristeza de uma rapariga de dezoito anos. O seu excessivo amor de pai não o deixava ver claro nisto. Tudo se lhe figurava presságio de doença, e essa ideia fixa privava-o da necessária frieza para ver claro nestas coisas.
Cada manhã, ao acordar, era um pensamento negro o primeiro que se lhe apossava do espírito – «Irei encontrar Cecília com doença declarada?» – pensava ele.
Todas as tardes, ao voltar a casa, em vez de tremer com o antecipado prazer de encontrar e abraçar a filha, tremia com o susto de a vir achar enferma.
Por mais que fizesse para tirar aquilo da ideia, não o podia conseguir. Dormindo, inquietavam-lhe os sonhos; comendo, vertia-lhe fel na comida; trabalhando, distraía-lhe a atenção do trabalho.
Os amigos do guarda-livros viam-no com olhos inquietos e murmuravam, uns com os outros, na ausência dele:
– Este pobre Manuel Quintino tem coisa que o rala.
– Está acabado, está.
– Se assim continua, bem pode o Sr. Richard ir lançando as vistas sobre outro caixeiro, porque este…
Nesta tarde fez Manuel Quintino um esforço desesperado para sair daquele sobressalto em que andava.