Uma Família Inglesa - Cap. 20: XX - Manuel Quintino procura distracções Pág. 243 / 432

Ainda que ela não se cansa… Não se cansa?… Não se cansava… agora…

E a ideia negra, aquela pertinaz ideia negra, a tomar outra vez posse de Manuel Quintino! E, com o ir adiantando-se a tarde, parecia cada vez mais negra, como se as sombras crescessem para ela também!

Daí em diante, não se modificou o processo das cogitações do velho. Uma fábrica de curtumes, umas crianças, a quem deu esmola, uns armazéns, tudo quanto viu, após várias oscilações do pensamento, faziam cair Manuel Quintino na preocupação anterior.

De maneira que o passeio, aquele passeio que o devia distrair, antes lhe exacerbou o mal que o atribulava.

Subia ele já a íngreme costeira, que levava do Esteiro de Campanhã até ao sítio do Padrão. A tarde arrefecera subitamente. Ou fosse o resultado daquele contínuo pensar em coisas tristes, ou influências de outras causas, é certo que Manuel Quintino principiou a não se sentir bom. Pesava-lhe a cabeça, como ourada; dobravam-se-lhe os joelhos de fraqueza; sentia um geral quebrantamento no corpo, que lhe dificultava já o regresso a casa; e depois a melancolia a condensar-se-lhe no coração, que parecia que lho estava a apertar com mão de ferro.

Quase se arrastava por aquela custosa estrada acima, desalentado e melancólico.

Chegando a uma das vendas, onde, aos domingos de Primavera e Estio, costumam celebrar festivas merendas alguns joviais habitantes da cidade, chegaram-lhe aos ouvidos cantos e risadas que, no atordoamento em que ia, o incomodavam; pareceu-lhe ouvir pronunciar o seu nome, no meio daquela vozearia; mas já não podia dispor da atenção para escutar o que dizia. Continuou caminhando.

De repente, apareceu à porta um dos da companhia a chamá-lo.

Manuel Quintino voltou-se lentamente para ele, sem dizer palavra.





Os capítulos deste livro