Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 20: XX - Manuel Quintino procura distracções

Página 243
Ainda que ela não se cansa… Não se cansa?… Não se cansava… agora…

E a ideia negra, aquela pertinaz ideia negra, a tomar outra vez posse de Manuel Quintino! E, com o ir adiantando-se a tarde, parecia cada vez mais negra, como se as sombras crescessem para ela também!

Daí em diante, não se modificou o processo das cogitações do velho. Uma fábrica de curtumes, umas crianças, a quem deu esmola, uns armazéns, tudo quanto viu, após várias oscilações do pensamento, faziam cair Manuel Quintino na preocupação anterior.

De maneira que o passeio, aquele passeio que o devia distrair, antes lhe exacerbou o mal que o atribulava.

Subia ele já a íngreme costeira, que levava do Esteiro de Campanhã até ao sítio do Padrão. A tarde arrefecera subitamente. Ou fosse o resultado daquele contínuo pensar em coisas tristes, ou influências de outras causas, é certo que Manuel Quintino principiou a não se sentir bom. Pesava-lhe a cabeça, como ourada; dobravam-se-lhe os joelhos de fraqueza; sentia um geral quebrantamento no corpo, que lhe dificultava já o regresso a casa; e depois a melancolia a condensar-se-lhe no coração, que parecia que lho estava a apertar com mão de ferro.

Quase se arrastava por aquela custosa estrada acima, desalentado e melancólico.

Chegando a uma das vendas, onde, aos domingos de Primavera e Estio, costumam celebrar festivas merendas alguns joviais habitantes da cidade, chegaram-lhe aos ouvidos cantos e risadas que, no atordoamento em que ia, o incomodavam; pareceu-lhe ouvir pronunciar o seu nome, no meio daquela vozearia; mas já não podia dispor da atenção para escutar o que dizia. Continuou caminhando.

De repente, apareceu à porta um dos da companhia a chamá-lo.

Manuel Quintino voltou-se lentamente para ele, sem dizer palavra.

<< Página Anterior

pág. 243 (Capítulo 20)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 243

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432