– Então donde vem, Sr. Manuel Quintino?
– Daí de baixo – respondeu, com voz fraca.
– E não encontrou ninguém conhecido pelo caminho?
– Eu, não.
– Pois ainda agora o procuraram aqui.
– A mim?!
– Sim; então não sabe o que há? – disse o sujeito, que lhe falava com certos modos de importância e cuidado.
O coração de Manuel Quintino principiou a bater desordenado.
– Eu não…
– Pois vieram, há poucos minutos, procurá-lo aqui, para que fosse, já, já, a casa, porque…
– Porque?… – interrogou Manuel Quintino, passando-lhe um calafrio por todo o corpo e secando-lhe subitamente a boca, como em acesso de febre.
– Porque… pelos modos… sua filha… estava bastante doente… Disseram que o tinham antes ido procurar ao escritório… mas…
Manuel Quintino já não escutava; encontrando forças no seu amor, sobressaltado assim, quase deitou a correr por o mesmo caminho, pelo qual com dificuldade se arrastara até ali.
O que lhe dera o aviso pôs-se a rir, ao vê-lo partir com tal pressa.
– Venham ver, venham cá ver! – dizia ele para os companheiros.
Um deles chegou à porta.
– Pobre homem! Chama-o. Olha que isso pode fazer-lhe mal.
– Ó Manuel Quintino! Psiu! Olhe que é hoje o 1.° de Abril, homem! Manuel Quintino!
Mas o pobre velho nem o ouviu; cada vez corria mais.
Estes homens tinham celebrado o 1.° de Abril – este dia que, não sei porquê, o uso popular consagra a recíprocas mistificações – ferindo no mais doloroso o coração de um pai! E ainda puderam rir!
Louvado seja Deus! Há gente assim graciosa no mundo!
– Vão lá agora segurá-lo – disse o mistificador. – Deixa-o, maior alegria o espera ao chegar a casa.
E voltou a divertir-se.
No entretanto Manuel Quintino prosseguia naquela marcha rápida, desordenada, como se