Pareceu ganhar vigor por um pouco. Prosseguiu, mas com andar mais tardo e vacilante. Cedo porém voltaram as ameaças do mal. Um entranhado terror apoderou-se-lhe do coração, uma como misteriosa consciência de próximo perigo.
As luzes da iluminação pública apareciam-lhe coloridas de vermelho. A perturbação de vista aumentou; tudo girava em volta dele; os objectos tornavam-se-lhe indistintos, afigurava-se-lhe que o terreno descia de repente, e em uma descida tão rápida, que ele teve de parar para não cair. Encostou-se à ombreira de uma porta.
Ouviu a voz de alguém, que já nem viu, dizer-lhe:
– O senhor não está bom? Entre para descansar.
– Não – disse ele com certo desabrimento, como se aquele conselho lhe desvanecesse cruelmente a ilusão, que fazia por conservar ainda.
E de novo tentou caminhar.
Estava próximo do cemitério público, chamado do Repouso; deu mais alguns passos. Os mesmos sintomas atacaram-no de novo e com maior violência; a vertigem foi completa; o chão pareceu faltar-lhe.
O bom homem ainda pôde murmurar:
– Senhor!… Senhor!… Por piedade!… Pois hei-de morrer aqui, sem ver minha filha?!…
E caiu sobre uns bancos de pedra da alameda que está em frente do cemitério.