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Capítulo 20: XX - Manuel Quintino procura distracções

Página 245
desejasse fazer desaparecer de súbito a distância que ainda o separava da filha, e ia murmurando:

– Cecília… pobre filha!… Ó Nossa Senhora! que desgraça! que desgraça! para que saí eu?… Não pode ser… Mas para me virem assim chamar… Quem sabe se… Grande perigo! grande perigo, por certo! Virgem Santa! E este caminho é tão longo!… E ela morta talvez por me ver chegar… Ó filha, filha…

E as lágrimas caíam-lhe em fio pelas faces.

O atordoamento de cabeça aumentava; a energia muscular, que a nova recebida momentaneamente lhe dera, cedia de novo lugar ao mesmo desfalecer que, antes, lhe vergava os membros. O pobre velho aterrava-se ao perceber isto.

– Oh! Dai-me forças, Senhor, dai-me forças para chegar depressa! Por misericórdia! – dizia ele, tremendo. – A minha pobre filha!…

E os ouvidos zuniam-lhe cada vez mais; diante dos olhos passavam-lhe, de quando em quando, faíscas, manchas avermelhadas, nuvens de sangue; ouviu o bater das fontes e das carótidas; furtava-se-lhe o chão debaixo dos pés; andava e não se sentia andar; já não tinha poder de regular os movimentos, que se sucediam sem a coordenação regular.

Uns homens, que passaram por ele, pararam a examiná-lo, e Manuel Quintino ouviu-lhes ainda dizer:

– Olha como vai aquela alminha! Há-de custar-lhe a dar com a porta da casa.

Estas palavras afligiram ainda mais este pobre pai, já tão aflito. Tinha chegado à capelinha do Padrão.

– Que angústias, meu Deus! Valei-me, Nossa Senhora! – murmurou ele.

Encostou-se algum tempo às grades da porta, porque já não podia andar.

Fez uma oração fervente, destas orações que, se não abrirem de pronto caminho até o trono de Deus, é porque para sempre se fecharam já as portas do Céu a todas as preces da humanidade. Mais sentida, mais do coração do que aquela, é que se não fazem no mundo.

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pág. 245 (Capítulo 20)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 245

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432