desejasse fazer desaparecer de súbito a distância que ainda o separava da filha, e ia murmurando:
– Cecília… pobre filha!… Ó Nossa Senhora! que desgraça! que desgraça! para que saí eu?… Não pode ser… Mas para me virem assim chamar… Quem sabe se… Grande perigo! grande perigo, por certo! Virgem Santa! E este caminho é tão longo!… E ela morta talvez por me ver chegar… Ó filha, filha…
E as lágrimas caíam-lhe em fio pelas faces.
O atordoamento de cabeça aumentava; a energia muscular, que a nova recebida momentaneamente lhe dera, cedia de novo lugar ao mesmo desfalecer que, antes, lhe vergava os membros. O pobre velho aterrava-se ao perceber isto.
– Oh! Dai-me forças, Senhor, dai-me forças para chegar depressa! Por misericórdia! – dizia ele, tremendo. – A minha pobre filha!…
E os ouvidos zuniam-lhe cada vez mais; diante dos olhos passavam-lhe, de quando em quando, faíscas, manchas avermelhadas, nuvens de sangue; ouviu o bater das fontes e das carótidas; furtava-se-lhe o chão debaixo dos pés; andava e não se sentia andar; já não tinha poder de regular os movimentos, que se sucediam sem a coordenação regular.
Uns homens, que passaram por ele, pararam a examiná-lo, e Manuel Quintino ouviu-lhes ainda dizer:
– Olha como vai aquela alminha! Há-de custar-lhe a dar com a porta da casa.
Estas palavras afligiram ainda mais este pobre pai, já tão aflito. Tinha chegado à capelinha do Padrão.
– Que angústias, meu Deus! Valei-me, Nossa Senhora! – murmurou ele.
Encostou-se algum tempo às grades da porta, porque já não podia andar.
Fez uma oração fervente, destas orações que, se não abrirem de pronto caminho até o trono de Deus, é porque para sempre se fecharam já as portas do Céu a todas as preces da humanidade. Mais sentida, mais do coração do que aquela, é que se não fazem no mundo.