Os pontos capitais recordou-os ou compreendeu-os à força de reflexão; restavam-lhe pequenas dúvidas, dificuldades de segunda ordem, que a experiência de Manuel Quintino, em poucos momentos, deveria elucidar.
Estas dúvidas e dificuldades, é preciso dizer-se, eram principalmente sobre a utilidade dos complicados processos de escrituração que Manuel Quintino, fiel aos velhos sistemas, escrupulosamente seguia. Carlos previa métodos mais simples e expeditos para executar certos lançamentos e operações e, vendo adoptados os mais extensos e tortuosos, sentia-se embaraçado, supondo haver alguma razão para a preferência e não a podendo descobrir.
Ao sair do escritório levava Carlos muito adiantada a sua instrução comercial. Havia muito tempo que não tivera tão laboriosa manhã!
À noite, quando se preparava para ir a casa do mestre, encontrou Jenny no corredor, a qual, como gracejando, lhe disse:
– Será verdade, Charles, o que acabo agora de saber?
– Então que soubeste tu?
– Que foste hoje um canseiroso guarda-livros e que a todos maravilhaste no escritório com a tua aplicação ao negócio.
– É verdade; tive esta manhã este capricho.
– Capricho? Será somente capricho essa febre súbita de trabalhar que te acometeu?
– Então que mais há-de ser?
Jenny esteve algum tempo calada, sem desviar os olhos do irmão.
– Tens razão. Será capricho. É decerto; mas talvez não tão inocente e sem importância como o queres fazer.
– Aí está que também tu és inconsequente, Jenny.
– Porquê?
– Ralhavas-me, há dias, por o meu desapego aos negócios do escritório; agora vejo-te com vontade de me ralhares pela minha aplicação.
– Se não houvesse nela uma intenção, de que eu desconfio!
– Uma intenção?…
Jenny mudou de tom.
– Deixas-me fazer-te uma pergunta?
– Diz.