Uma Família Inglesa - Cap. 22: XXII - Educação comercial Pág. 273 / 432

No exemplo que temos à vista, Manuel Quintino era o representante das ideias conservadoras; Carlos, o apóstolo do progresso.

Por vezes o inabalável rochedo da experiência do guarda-livros foi rudemente açoitado pelas objecções que a lúcida inteligência de Carlos contra ele despedia. – Manuel Quintino fazia, porém, como o rochedo; não as repelia, deixava-as passar por si e ficava firme.

Manuel Quintino explicara, por exemplo, a Carlos a maneira de fazer os lançamentos, no caso de uma suposta remessa de lã para Liverpool.

Carlos combateu a longura e complicação dos processos seguidos, expondo a maneira como, no seu entender, se podia e devia simplificar a escrituração; parecia-lhe que muitas indicações feitas nos livros escusavam de ser registadas, e neste caso estavam todas aquelas contas que, pelo processo de Manuel Quintino, eram creditadas e debitadas simultaneamente; desnecessário julgava fazer menção delas, visto que ficavam logo por esse facto saldadas.

Os métodos indicados por Carlos eram tão simples, tão racionais, tão despidos de minuciosidades defeituosas, despojavam os livros de tantas indicações supérfluas, ronceiramente consagradas pelo hábito, que Manuel Quintino não soube como combatê-los.

Imagine-se a contrariedade que experimentou com isto!

Não era ele, porém, homem que rompesse com hábitos velhos e renegasse, perante as primeiras objecções de um rapaz inexperiente, o clássico sistema, a que fora fiel durante os muitos anos do seu tirocínio comercial; por isso retorquiu com acrimónia:

– Não sei de contos; assim é que se faz.

– Será; mas não se podia fazer também da maneira que eu digo?

– Podia… não podia… isto é… podia… não podia, não, senhor.

– Porquê?

– Porque não.

– Mas é, sem comparação, mais simples.





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