– Não, senhor – respondeu a rir –; conforme a qualidade da obra, assim se prefere a qualidade do ponto.
– Ah! Visto isso, o posponto… é um ponto também?
– Pois está claro. É um ponto que se dá assim. Ora repare.
E Cecília, acompanhando a palavra com a acção, principiou a trabalhar com todo o vagar, ao passo que Carlos assistia à demonstração com a atenta seriedade de um discípulo. Ainda que me parece que menos vezes lhe seguiam os olhos os movimentos da agulha do que se fixavam a admirar a perfeita modelação e delicado colorido da mão que a movia.
– Repare – dizia Cecília – dá-se, suponhamos, o primeiro ponto; maior ou menor, conforme a delicadeza da obra, já se sabe. Assim. Ora agora, a agulha entra aqui mesmo pelo meio deste primeiro ponto… Vê?… E vai sair adiante, de maneira que este segundo ponto tenha o mesmo comprimento do primeiro. Entende? A terceira vez entra por onde saiu a primeira, a quarta por onde saiu a segunda… e assim por diante… Entende agora?
– Muito bem. E o sobrecosido?
– Mas como lhe deu para querer saber destas coisas?
– É uma esquisitice. Concordo. Mas… então que quer? Mau é que eu tenha um desses desejos. Incomodo-me deveras, se os não satisfaço.
– Ah! Não sabia que era caprichoso.
– E não concebe esta maneira de sentir?
– Eu, não.
– Não diga que não. É impossível. A imaginação feminina, sem dúvida mais delicadamente sensível do que a nossa, não pode ignorar estes pequenos caprichos. O capricho é, a meu ver, uma prova de superioridade moral em quem o tem. Vamos; termine a minha lição.
– Então que quer saber agora?
– Que é um sobrecosido?
Cecília condescendeu ainda em lhe explicar o que era o sobrecosido, como já lhe explicara o que era o posponto. Carlos deu-se no fim por satisfeito.