Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 23: XXIII - Diplomacia do coração

Página 279

– Não, senhor – respondeu a rir –; conforme a qualidade da obra, assim se prefere a qualidade do ponto.

– Ah! Visto isso, o posponto… é um ponto também?

– Pois está claro. É um ponto que se dá assim. Ora repare.

E Cecília, acompanhando a palavra com a acção, principiou a trabalhar com todo o vagar, ao passo que Carlos assistia à demonstração com a atenta seriedade de um discípulo. Ainda que me parece que menos vezes lhe seguiam os olhos os movimentos da agulha do que se fixavam a admirar a perfeita modelação e delicado colorido da mão que a movia.

– Repare – dizia Cecília – dá-se, suponhamos, o primeiro ponto; maior ou menor, conforme a delicadeza da obra, já se sabe. Assim. Ora agora, a agulha entra aqui mesmo pelo meio deste primeiro ponto… Vê?… E vai sair adiante, de maneira que este segundo ponto tenha o mesmo comprimento do primeiro. Entende? A terceira vez entra por onde saiu a primeira, a quarta por onde saiu a segunda… e assim por diante… Entende agora?

– Muito bem. E o sobrecosido?

– Mas como lhe deu para querer saber destas coisas?

– É uma esquisitice. Concordo. Mas… então que quer? Mau é que eu tenha um desses desejos. Incomodo-me deveras, se os não satisfaço.

– Ah! Não sabia que era caprichoso.

– E não concebe esta maneira de sentir?

– Eu, não.

– Não diga que não. É impossível. A imaginação feminina, sem dúvida mais delicadamente sensível do que a nossa, não pode ignorar estes pequenos caprichos. O capricho é, a meu ver, uma prova de superioridade moral em quem o tem. Vamos; termine a minha lição.

– Então que quer saber agora?

– Que é um sobrecosido?

Cecília condescendeu ainda em lhe explicar o que era o sobrecosido, como já lhe explicara o que era o posponto. Carlos deu-se no fim por satisfeito.

<< Página Anterior

pág. 279 (Capítulo 23)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 279

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432