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Capítulo 24: XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão

Página 284

– Muito obrigada. Então ainda se dá bem na casa?

– Vamos andando. Da maneira por que hoje as coisas estão, ainda não é das piores.

– Diz bem. A soldada, a falar a verdade… acho que não é lá das de tentar, mas…

– Está feito, está feito; há-as melhores e há-as piores – disse a Sr.a Antónia, que não gostava de entrar em particularidades da sua vida, nem para isso vinha.

– Ele também… – insistia a outra – não pode alargar-se muito. Um caixeiro…

– Deixe lá. Há por aí patrões que vivem em maiores apertos.

– Diga-mo a mim, Sr.a Antoninha. Olhe a minha Luísa… Conhece? A filha do nosso António. Pois esteve ali abaixo a servir seis meses em casa do comendador Colaço e saiu de lá porque aquilo chegava a pouca vergonha. Os criados passavam fome de rato. Olhe que chegavam a dar-lhes pão de uma semana e a comprar sardinha da caravela para a ceia deles. Pois quem via aquilo na rua, parecia que tinham as rendas do bispo.

– Pschi! E quando ao menos são prontos na soldada!

– Prontos?! Isso sim! A uma criada, que lá esteve três anos, ainda hoje estão a dever um ano inteiro. Ora isso é mesmo uma dor de consciência, não acha?

– Mas então que quer? O luxo é muito.

– É assim, é. Diz bem. É uma coisa por maior! Vossemecê há-de conhecer aquele Maltês, que é não sei o quê na administração, um homem bem afigurado, que anda sempre com um cão preto…

– Ai, bem sei. O cunhado daquele militar de quem dizem as más línguas…

– Tal e qual. Pois não sei se tem reparado no luxo com que se apresentam as filhas e a mulher. Ó Santo Deus! Enfim, uma coisa é ver, outra é dizer. Aqui há dias passaram aí todas e eu benzi-me e tornei-me a benzer! Não que nem a rainha pode luxar assim. Qual! Ora, veja a Sr.a Antoninha, o pai dizem que não ganha mais de trezentos mil réis por ano.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 284

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432