Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 24: XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão

Página 287
Há dias em que não faz outra coisa.

– Arrenego eu o Judas Iscariotes!

– E então, Sr.a Antoninha, é um menino a quem tudo faz conta. Não sei se me entende? Seda e chita é tudo pano para ele fazer obra. Dizia o Luís, que foi muito tempo criado dele, que eram tantas as cartas que recebia de diferentes, que era uma coisa por maior!

– Tratante! O que ele precisava…

– Diz que aí com uma comediante do teatro gastou ele contos de réis ao pai. Até o velho quis mandá-lo para Inglaterra.

– Fosse e nunca voltasse! Arrenego-o eu!

– É da pele do mafarrico. Depois então diz que bebe!

– Faltava mais essa!

– Pois se ele é inglês! Às vezes, quando vem para casa, já de dia claro, chega a ser preciso deitá-lo na cama, porque não dá acordo de si.

– Olhem que vergonha! Uma pessoa fina, e…

A gente sempre vê coisas!…

– Aqui há tempos… Vá vendo a Sr.a Antoninha; ia eu já a abrir a porta da rua, pela madrugada, e entrava aquela criaturinha para casa. Vinha amarelo, esgadelhado; bem se conhecia o estado daquela cabeça.

– Não, também com uma vida assim não pode ir muito longe.

– Pois não, não… E é até uma felicidade para ele, se morrer.

– Aposto que a estas horas ainda dorme?

– Abriu agora mesmo as janelas. Hoje madrugou.

– Então é ali o quarto dele?

– É, é ali mesmo à entrada. O pai e a irmã saíram logo pela manhã cedo. Pelos modos diz que chegou da Inglaterra um inglês muito rico com uma filha, a quem eles foram visitar. Disse-me a Doroteia, que é a despenseira, que o velho quer ver se casa o filho com a tal inglesa.

– E o rapaz?

– O rapaz?… Bem pensa ele nisso!… Olhe lá se ele os foi visitar.

Haviam chegado as duas mulheres a este ponto do diálogo, quando entrou na rua uma sege da praça, puxada com toda a força por dois vigorosos cavalos, e veio parar à porta da casa de Mr.

<< Página Anterior

pág. 287 (Capítulo 24)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 287

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432