Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 25: XXV - Tempestade doméstica

Página 292

O criado, que estava à porta quando Mr. Richard chegou a casa, era o mesmo que recebera pela manhã a visita que tanto indignara a Sr.a Antónia.

– A que horas saiu hoje o Sr. Carlos? – perguntou Mr. Richard, em tom de voz seco e áspero.

– Às… às dez horas – respondeu, já sobressaltado, o criado.

– Só?

O rapaz teve vontade de dizer que sim, mas Mr. Richard fitava-o com um olhar que lhe desvaneceu toda a impassibilidade precisa para isso.

– Só? – repetiu o inglês, com mais força.

– Não… não senhor… – respondeu o criado.

– Então?

– Com… com…

– Com quem? – respondeu Mr. Richard, cada vez mais imperioso.

– Com uma senhora, que… que veio procurá-lo… mas… era já de idade – acrescentou o homem, como correctivo.

Porém Mr. Richard já lhe havia voltado as costas, entrando para casa. Jenny estranhou-o. Hábil na leitura daquela fisionomia, nem uma só ruga, que acidentalmente a carregasse, podia passar-lhe despercebida e sem lhe excitar desejos de decifrá-la.

Mr. Richard respondeu benignamente, mas em poucas palavras, às perguntas de Jenny, e quis saber se Carlos já tinha vindo para casa.

Recebendo resposta afirmativa, acrescentou que, antes de jantar, desejava ir ao quarto dele.

Era esta resolução tão extraordinária, que Jenny, ao ouvi-la, olhou fixamente para o pai.

Conheceu que alguma coisa tinha ocorrido, capaz de trazer após si uma dessas cenas violentas que ela tanto fazia por afastar.

Pretendeu conjurá-la.

– Pois vamos – disse a sorrir, e dispondo-se a acompanhar o pai.

– Não, não – respondeu Mr. Richard, afastando-a com doce violência. – Eu pretendo… preciso de falar-lhe a sós.

Jenny soltou-lhe o braço, a que já se apoiara, desanimada com a frieza, mal oculta, daquelas palavras.

Mr. Richard tentou abrandar a impressão do primeiro movimento, dizendo:

– É de negócios que se trata… Até já!… No entretanto, podes mandar servir o jantar.

<< Página Anterior

pág. 292 (Capítulo 25)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 292

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432