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Capítulo 28: XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto

Página 313

Cecília demorava-se porém pouco tempo junto dela, e pouco tempo em toda a parte. Lembrava uma avezita prisioneira, quando, ao amanhecer de um dia de sol desanuviado, após longos de nuvens e de chuva, bate as asas, salta de poleiro em poleiro, esvoaça de encontro às grades da gaiola, e ensaia de novo o canto, havia muito interrompido.

Ocupada com os preparativos do que ela chamava a festa do pai, Cecília não parava um momento. Descia ao quintal, para colher flores; escondia-se no quarto, para formar ramos, e com eles enfeitar as jarras; passava à sala de Manuel Quintino, para que a ausência não fosse estranhada, e com o fim de dizer ao pai algumas palavras de afecto; depois, voltava ao quintal e sempre com ligeireza e agilidade, próprias daquele corpo flexível e elegante e daquela nervosa compleição.

De quando em quando, chegava também à janela, esperançada em que um feliz acaso lhe satisfizesse não sei bem que secretas aspirações, as quais talvez a leitora adivinhe.

Foi em uma destas ocasiões que Antónia, encontrando-se com ela no corredor, lhe disse à queima-roupa:

– Já esta manhã vi o Sr. Carlos.

Cecília perturbou-se; mas inquiriu, afectando indiferença:

– Aonde?

– Ia a sair de casa. Entrou com uma senhora nova para uma carruagem…

– Havia de ser a Jenny, a irmã…

– Ai, não; não era, não, senhora. Essa tinha saído com o pai, logo pela manhã, que mo disse a Sr.a Josefinha. Esta tal, que eu digo, chegou de fora. Pelos modos… é das tais comediantes do teatro… que ele conhece.

– Comediantes?! – disse Cecília, não procurando já disfarçar a inquietação.

Após este prelúdio, a Sr.a Antónia entrou de alma e coração na matéria, que esgotou completamente. Disse quanto ouviu, quanto viu e, mais ainda, quanto pensou e concluiu de tudo o que ouvira e vira, graças àquele vigor de dedução lógica, que era dos mais característicos dotes desta senhora.

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pág. 313 (Capítulo 28)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 313

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432