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Capítulo 29: XXIX - Os amigos de Carlos

Página 327

Não sei se deva aconselhar o meio como eficaz. Talvez seja mais prudente pensar com os olhos abertos para o mundo que nos rodeia, não o incluirmos como elemento nos nossos cálculos, corremos o risco de adoptar resoluções que mais tarde nos valham choques incessantes e dolorosos conflitos.

O pensar com os olhos fechados é só bom quando se trata de coisas puramente metafísicas; mas procurar assim regras de procedimento na vida é imprudente.

O resultado que produziu em Carlos este sistema de pensar foi a seguinte carta, que ele escreveu com vivacidade quase febril:

«Cecília.

Há dias recusou ouvir-me, quando o acaso me aproximou de si; não leve o rigor ou a desconfiança a ponto de desviar os olhos desta carta que escrevo, subjugado por uma necessidade irresistível, por uma violência do coração. Quando lhe falei com toda a sinceridade que inspira uma paixão veemente, Cecília tomou as minhas palavras por um simples galanteio e recusou escutá-las; e não haveria na minha voz alguma coisa a assegurar-lhe que eu não mentia? Como poderei esperar agora que seja mais eficaz esta carta, à qual não posso transmitir aquilo que se não traduz em palavras: o sentimento? Como a poderei convencer, Cecília? Se imagina sequer o respeito, a veneração que tenho pelo nome de minha irmã, não acreditará que possa mentir, invocando-o, ao afirmar-lhe que a amo, Cecília; se crê que a memória de minha mãe é para mim de tanta adoração e saudades, como as que se apoderavam do coração de Cecília e lhe transluziam no rosto, quando a vi ajoelhada no túmulo da sua, pela memória de minha mãe lho juro também. Que mais quer? Que mais exige? Não me julgue pelo passado; entre ele e a minha vida de hoje elevou-se uma barreira, no dia em que principiei a trazer a sua imagem no pensamento e o seu nome, etc.

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pág. 327 (Capítulo 29)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 327

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432