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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 32

O jornalista, que ficava ao lado dele, interpelou-o pela preocupação em que o viu.

Ora uma observação qualquer da parte deste jornalista tendia fatalmente a degenerar em longa revista literária, que era difícil interromper.

– Que tem você, homem? O tal bilhete produziu um efeito quase apopléctico. Coragem! É negócio de coração? Alguma loura e nevada miss, hem? Oh! as inglesas! A desassombrada candura do seu suavíssimo to flirting! – daquele flartar, como, com tanta razão, traduz Garrett, à falta de melhor vocábulo.

E ele aí principiava:

– Você já leu Garrett, Carlos? Que me diz daquelas Viagens, hem? Oh! é inquestionavelmente o melhor dos seus livros. Prefiro-as às de Xavier de Maistre. Que eu não participo da admiração geral por Xavier de Maistre; é preciso que saiba.

Pausa, durante a qual saboreou um gole de Xerez. Depois de alguma asserção mais arrojada, a pausa era de rigor.

Carlos, já se sabe, não redarguiu. Neste intervalo, pôde ouvir o conviva próximo, que dizia:

– Eu agora o que desejava era ter, pelo menos, trezentos contos de réis; ia daqui a Paris, depois…

O jornalista prosseguiu:

– Xavier de Maistre inspirou-se de Sterne; é evidente; ficou porém a grande distância dele. A Viagem Sentimental, sim. Oh! A Sentimental Journey. É um livro delicadamente temperado de uma certa especiaria filosófica, única que se combina com vantagem à literatura amena. O humour morreu com Sterne. – Pausa. – A demasiada filosofia gela a inspiração literária. Aí tem Pope. É frio, é árido, é marmóreo. – Pausa. – Os poetas franceses não têm tanta tendência para se deixarem filosoficar, permita-me o neologismo. Vítor Hugo, às vezes… Qual prefere você, ó Carlos, Lamartine ou Vítor Hugo? Vítor Hugo é mais byroniano. E é notável

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 32

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432