– Vê lá se preferes que a procuremos.
– Querem obrigar-me a ser incivil, mandando-os sair?
– Incivil estás tu sendo já.
– E tu a fazeres drama, Carlos! Desconheço-te.
– Está decidido – disse o louro adamado – o homem reage. O remédio é fácil. Procuremo-la. Ele por certo que a não confiou à família para guardar. Deve estar escondida aqui.
– Batamos a mata. A gazela há-de aparecer.
E num instante principiou desordenada pesquisa em todo o aposento. Não houve móvel nem esconderijo que não fosse revistado.
– E na biblioteca? – disse por fim uma voz.
– É verdade! Na biblioteca! – repetiram os outros.
E todos caminharam para lá.
Carlos tremeu por Cecília.
– Proíbo-lhes que abram essa porta! – exclamou, com voz perturbada.
– Bravo! Acertámos! Ouvem-no?
– Ah! diavolo! Está fechada por dentro.
Carlos respirou.
– É a primeira vez que me lembra achá-la assim. Mistério! Deixa ver se pela fechadura…
– Carlos, abre ou manda abrir esta porta.
– Escutem. Há rumor lá dentro.
– Deixa ouvir.
– É ela.
O que espreitava continuou:
– Parece-me que vi agora o vestido de uma mulher.
– Ah!
– Foi ler Paulo e Virgínia. Conselho de Carlos, que está dado a leituras brandas.
– Ah! ah! ah!
– Psiu! Calai-vos.
Carlos levantou-se desesperado.
– É de mais! Exijo-lhes que saiam daqui.
– E eu exijo silêncio. Alguém se aproxima. É ela! Incessu patuit dea… É mais razoável do que tu; veio às boas.
Carlos lembrou-se da anterior tentativa de Cecília e receou que se renovasse.
Agora já ele não podia impedir os passos. Perdeu com esta ideia toda a força moral; sentiu-se desalentado.
A chave girou na fechadura.
– Desbarretem-se, meus senhores. Ei-la enfim! – disse um dos do rancho.
Carlos fechou os olhos, como se na presença de perigo iminente; a mão apertava-se-lhe convulsivamente sobre a caixa de revólveres que tinha perto de si.