E estas palavras soube dizê-las Jenny com delicada flexão de ironia na voz, que aumentou o embaraço dos que a escutavam.
Curvando-se ligeiramente para eles, Jenny saiu da sala com Cecília.
Carlos não ousou erguer os olhos para a irmã.
Vendo-a sair, voltou-se para os seus antigos companheiros, que principiavam a formular desculpas, e disse-lhes com provocadora frieza:
– Espero que estará satisfeita a sua curiosidade. Ordenam mais alguma coisa?
– Desculpa, Carlos; nós julgámos…
– Tu bem vês que não sabíamos…
– Ó menino, acredita que…
– Palavra, que pensei que era a do dominó.
– Também eu.
– Espero que não leves a mal.
– Aquilo era brincadeira.
– Adeus, Carlos; aparece. Faz-te visível.
– Mil perdões e… e parabéns.
E deixaram o quarto.
Na rua diziam:
– E esta!
– Carlos casar-se!
– Requiescat in pace!
– Ámen.
A porta a fechar-se sobre o último, e Carlos a correr à biblioteca para ajoelhar aos pés da irmã.
– Jenny! Jenny! O amor que eu te tinha é pouco para o que te devo. É preciso adorar-te, minha irmã.
Jenny ergueu-o e, olhando-o com expressão triste e meiga, disse:
– Deixa esse excesso de afeição para alguém, que já agora tem mais direito a ela do que eu.
E apontou para Cecília que, chorando, escondia o rosto no seio da amiga.
Carlos dirigiu-se a ela comovido:
– Cecília, Cecília, quererá perdoar-me?
Cecília estendeu-lhe a mão, sem responder, nem levantar o rosto.
Carlos curvou-se para beijá-la.
Uma lágrima assomou aos olhos de Jenny.
Erguendo-os ao céu, murmurou, dirigindo-se talvez à imagem da mãe, presente à sua imaginação:
– Obrigada! Obrigada!
Que lhe agradeceria Jenny? A inspiração que dela lhe viera, decerto.