– Triplique, e não lhe faz favor nenhum – disse, do alto da mesa, o padre, conseguindo passar esta nota por meio de uma briga travada entre os mais disparatados assuntos.
– Ora aí tens! – disseram os disputantes, aceitando o auxílio, como de valia provada.
O padre limpava tranquilamente os beiços e enchia um cálice de malvasia.
– Então diz o padre Manuel que o Viegas…
– O Viegas tem pelo menos… – dizia de lá o padre, elevando o cálice entre os olhos e a luz, e revendo-se na limpidez do licor; e, antes de completar a frase, levou-o à boca e despejou-o de um trago.
Depois continuou:
– Tem pelo menos… pelo menos…
Aqui, enxugou os lábios e enfim concluiu:
– Sessenta e sete contos de réis.
– Ora!
Carlos passara para o outro lado da mesa, seguido ainda do jornalista, que lhe ia dizendo:
– É a questão do dia. – O dinheiro. – A literatura ressente-se…
E daqui passou a falar de Alexandre Dumas, filho, de Émile Augier, de Ponsard… etc., etc…
– Deixa-te disso – dizia, no ponto da sala a que os dois chegavam, um rapaz imberbe e ainda em estudos de preparatórios – a Emília Vitorina é outra qualidade de mulher. Ainda ontem, em casa do barão de Tavares, me encontrei com ela. Trajava de Maria Stuart. Era uma perfeita rainha, uma mulher distinta, esplêndida.
– Foi, foi; já não é. Descobriram-se-lhe os primeiros estragos, quando em ti apareciam os primeiros dentes. A idade… – dizia outro.
– Ora a idade! a idade! A mulher tem sempre a idade que parece ter.
– Concordo; mas, depois dos quarenta e tantos anos, a mulher parece ter a idade que tem.
– Bárbaro! Ó Carlos, que dizes tu?
– Digo que sim – respondeu Carlos, que nem atendera à discussão.
– Está esta criança do Duarte a afirmar que prefere a Emília Vitorina à Mariana Prazeres.