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Capítulo 31: XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino

Página 358
Contudo a confiança que depositava em Cecília era tal que, não obstante conhecer o carácter leviano de Carlos, hesitava ainda em supor mal do que, pela primeira vez, ouvia.

– E depois voltou?

– Até o tal dia, em que o senhor adoeceu, não; mas quem o quisesse ver era chegar, aí a certas horas da manhã, e ao cerrar a noite, à janela.

– Sim; eu lembro-me de que às vezes…

– Ali, a estanqueira é que me fez reparar.

– Mas isso lá…

– Pois não tem nada, bem sei; mas, quase sempre a menina, às mesmas horas, estava à janela…

– Cecília?!

– É verdade. E desse tempo é que vem aquela mudança nela.

Manuel Quintino passou a mão pela testa, como para arredar de si uma ideia aflitiva.

– Depois então – continuou Antónia – veio o pé da sua doença e dos negócios do escritório, e aí o tivemos metido em casa. Então julga o Sr. Manuel Quintino deveras que ele teria paciência para assim aturar tanto tempo, se…

– Cale-se, mulher! – exclamou Manuel Quintino, com voz alterada. – Carlos é generoso. Para servir um amigo, não hesita em sacrifícios.

– Será; mas olhe que não fui eu só que desconfiei.

– Era preciso ser muito infame para abusar assim da confiança de um homem velho, honrado e doente… Não; nem Carlos nem Cecília entrariam nessa indigna combinação!…

– Eu não digo que fosse combinação de ambos; tanto não digo eu; mas, enfim… além de mim, houve quem pensasse…

– Isso sei eu; e cá recebi o golpe. A carta anónima não deixou de me chegar às mãos.

Mostrei-a a Carlos; e saiba então que foi ele, ele próprio, que resolveu não voltar cá mais.

– Ai, sim? Pois essa não sabia eu! Agora é que vejo de que casta ele é. Então quer que lhe diga? Depois que ele deixou de cá vir, uma noite ouvi correr o fecho da porta do quintal. Era noite de luar; ainda estava a pé e espreitei à janela.

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pág. 358 (Capítulo 31)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 358

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432