– E um dia em que ele…
Uníssona e estrepitosa gargalhada, partindo de um grupo que estava já em pé no extremo da sala, interrompeu a história.
Todas as atenções e todos os olhares convergiram para ali.
Eram quatro os rapazes que riam e riam até lhes caírem as lágrimas dos olhos. Junto destes, o quinto mostrava, em certo ar constrangido, poucas disposições para expansão igual.
– É impagável este homem! – dizia um dos que riam.
– Que foi? Que foi? – perguntavam os que não faziam parte do grupo, rindo já com antecipação também.
O dos ares constrangidos respondeu:
– Não façam caso; são doidos.
– Que foi? Digam – insistiam todos na sala.
– É aqui o Cláudio Pires que fez uma das suas descobertas.
– Eu disse… – tentou este interromper.
– Silêncio! – bradaram muitos a um tempo.
– O Cláudio – continuou um dos que mais riam ouvindo aqui o Lourenço falar com elogio em um sistema de comportas que viu no estrangeiro, observou-nos que havia de se dar bem por lá, por isso que nada se lhe acomoda melhor com o estômago, depois de jantar, do que as comportas.
– Comportas de marmelos, ou assim uma coisa, é o que eu disse.
A justificação foi sufocada por um coro geral de gargalhadas.
– O bárbaro era capaz de roer os diques dos Países Baixos e sacrificar a Holanda a uma geral inundação.
– Que terrível capricho estomacal!
– Vejam do que está dependente a sorte dos impérios! Esta escapou a Volney!
E os ditos sucediam-se, e cruzavam-se os epigramas, e a confusão subia de ponto com isto.
Até que, enfim, uma voz dominou o tumulto.
– Reparem que são onze horas e que é tempo de fazermos a nossa entrada solene nos bailes de máscaras.