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Capítulo 34: XXXIV - Manuel Quintino alucinado

Página 382
– Sou eu!… eu… repare bem! É um pai que lhe vem pedir contas de sua única filha!

Carlos, a quem a surpresa parecia haver paralisado – a surpresa e porventura ligeiros remorsos de consciência também – olhava para Manuel Quintino e, corando e empalidecendo, permanecia como subjugado pelo olhar de irritação daquele velho que o interrogava assim.

Manuel Quintino, ao ver esta perturbação, perdeu todo o poder que ainda conservava sobre si.

– Carlos – disse ele –, o senhor abusou da confiança do homem que lhe abriu sem hesitar as portas de sua casa; o senhor zombou cruelmente destes cabelos brancos, que foram criados em serviço honrado e sem vergonha; o senhor esmagou o coração que se lhe abrira, como o de um pai… o senhor é… é um infame!

Quem visse a postura e o rosto de Carlos julgaria verdadeira a acusação. Surpreendido inesperadamente por ela, faltou-lhe a reacção para repeli-la.

Mr. Whitestone, ao escutar as últimas palavras de Manuel Quintino, empalidecera, fenómeno raro nele e que se julgaria irrealizável. – Cedo, porém, o sangue reagiu contra a repressão que o expelira das faces, e afluiu com máxima intensidade a elas. Os olhos, brilhando com fulgor extraordinário, não se desviavam do filho, como à espera de vê-lo protestar contra aquela grave acusação.

Jenny, erguendo a cabeça, por um movimento cheio de dignidade, adiantou-se na sala. Subira-lhe também às faces um rubor de impaciência, vendo o irmão emudecer perante uma acusação que ela sabia ser injusta.

Com fogo no olhar e vivacidade na voz, que eram pouco do carácter dela, disse, dirigindo-se a Manuel Quintino:

– Manuel Quintino, acaba de fazer uma acusação que o desonra, porque é falsa.

O velho guarda-livros voltou-se para Jenny e, em luta entre a dúvida e

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pág. 382 (Capítulo 34)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 382

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432