– Sou eu!… eu… repare bem! É um pai que lhe vem pedir contas de sua única filha!
Carlos, a quem a surpresa parecia haver paralisado – a surpresa e porventura ligeiros remorsos de consciência também – olhava para Manuel Quintino e, corando e empalidecendo, permanecia como subjugado pelo olhar de irritação daquele velho que o interrogava assim.
Manuel Quintino, ao ver esta perturbação, perdeu todo o poder que ainda conservava sobre si.
– Carlos – disse ele –, o senhor abusou da confiança do homem que lhe abriu sem hesitar as portas de sua casa; o senhor zombou cruelmente destes cabelos brancos, que foram criados em serviço honrado e sem vergonha; o senhor esmagou o coração que se lhe abrira, como o de um pai… o senhor é… é um infame!
Quem visse a postura e o rosto de Carlos julgaria verdadeira a acusação. Surpreendido inesperadamente por ela, faltou-lhe a reacção para repeli-la.
Mr. Whitestone, ao escutar as últimas palavras de Manuel Quintino, empalidecera, fenómeno raro nele e que se julgaria irrealizável. – Cedo, porém, o sangue reagiu contra a repressão que o expelira das faces, e afluiu com máxima intensidade a elas. Os olhos, brilhando com fulgor extraordinário, não se desviavam do filho, como à espera de vê-lo protestar contra aquela grave acusação.
Jenny, erguendo a cabeça, por um movimento cheio de dignidade, adiantou-se na sala. Subira-lhe também às faces um rubor de impaciência, vendo o irmão emudecer perante uma acusação que ela sabia ser injusta.
Com fogo no olhar e vivacidade na voz, que eram pouco do carácter dela, disse, dirigindo-se a Manuel Quintino:
– Manuel Quintino, acaba de fazer uma acusação que o desonra, porque é falsa.
O velho guarda-livros voltou-se para Jenny e, em luta entre a dúvida e