Uma Família Inglesa - Cap. 34: XXXIV - Manuel Quintino alucinado Pág. 388 / 432

Eu os guardo todos!

Sim, eu os guardo! Para homens e para crianças, ano após ano, uns de pesares, outros de alegrias, edifiquei essas casas que por aí jazem em torno, em cada recanto deste funéreo terreno. Mãe e pai, filhos e filhas, um por um, vieram acolher-se à minha solidão. Mas, ou estranhos ou parentes, venham! venham! que eu os guardo todos! Eu os guardo todos!

Sim, eu os guardo! Muitos estão comigo, e contudo eu estou só! Eu sou o rei dos mortos! Meu trono faço-o de um sepulcro de pedra ou de frio mármore, e o meu ceptro de comando é a enxada que empunho. Todos os homens são meus vassalos, quer cheguem da choupana, quer cheguem das salas; todos, todos, todos! Agitem-se embora na ânsia do prazer ou na ânsia do trabalho! Venham! venham! que eu os guardo todos! Eu os guardo todos!

Sim, eu os guardo! Seu leito final é aqui; aqui debaixo, no escuro seio da terra. – E o coveiro calou-se, porque o cortejo funeral passava silenciosamente naquela planície. E eu disse comigo: Ao findar dos séculos, uma voz, mais poderosa do que a desse velho coveiro, bradará mais alto do que o tremendo clangor da trombeta final: Venham! venham! que eu os guardo todos! Eu os guardo todos!»

Imagine-se o efeito que a voz do cantor, a música e a letra da canção produziriam depois de um jantar.

A música obrigava a repetir por mais de uma vez o estribilho final de cada estância no original.

– I gather them in, gather, gather, gather, I gather them in – cantava Mr. Morlays, com entonação que fazia lembrar um sino dobrando a finados.

Não se consegue estômago que ficasse imperturbado após uma sobremesa destas.

O cantor seguia com malignidade, verdadeiramente satânica, o efeito do canto sobre o acto visceral dos seus amigos.

Mr. Brains reprimia a custo a indignação que sentia.





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