Jenny desanimou. Ergueu-se, enfim, resoluto, e sem parar um momento mais, dirigiu-se ao gabinete de Mr. Richard e pediu licença para entrar.
– Entre – disse de dentro a voz do negociante.
Paulo entrou, fechando a porta atrás de si.
Jenny não pôde conter-se; saíram-lhe involuntariamente dos lábios estas palavras:
– Está ganha a causa!
Manuel Quintino olhou para ela admirado.
Jenny pôs-se a rir.
– Se soubesse, Manuel Quintino, que se está agora mesmo desmoronando o último e pequeno estorvo que se opunha à sua felicidade!…
Manuel Quintino cada vez a compreendia menos.
Jenny nada mais disse.
A conferência de Paulo e de Mr. Richard durou muito tempo. De fora só se percebia um indistinto rumor de vozes, sem se distinguir uma só palavra.
Afinal abriu-se a porta outra vez.
Passou por Jenny o tremor de incerteza.
O primeiro que saiu foi Paulo; trazia as faces afogueadas, os olhos vermelhos; mas, por entre estes vestígios de tristeza, transluzia certo ar de contentamento de alma, que tranquilizou Jenny.
Momentos depois saiu Mr. Richard. Através da impassibilidade e frieza aparente da fisionomia do velho, o olhar de Jenny percebeu que lhe ia muita alegria no coração.
Mr. Richard deu algumas ordens, fez algumas recomendações, e depois, voltando-se para a filha, disse-lhe que estava à disposição dela. Retirava-se do escritório a uma hora excepcional. Jenny acompanhou-o.
– Saíste-te perfeitamente da tua incumbência, Jenny – disse-lhe o pai, quando a sós com ela no carro.
– Então não saí?
– E como o conseguiste?
– Mais devagar!… Esse é o meu segredo. Diga, não estará Carlos ainda justificado?
Um sorriso foi a resposta que obteve esta pergunta; sorriso de orgulho, de afecto, de comoção, que tudo estava então experimentando aquele coração de pai.