O conceito que geralmente fazem de meu irmão não lhe serve de fiança valiosa. Isto tem feito existir entre Charles e o pai, há já muitos dias, uma frieza… mais do que frieza, uma quase hostilidade, que me aflige. Se soubesse, Manuel Quintino, o que tenho chorado por causa deles!…
Jenny que, como dissemos, falava agora em inglês e como quem não receava que alguém mais a compreendesse na sala, lançava de quando em quando olhares furtivos para Paulo e via-o mudar de cor, passar de pálido a corado, empalidecer de novo, corar outra vez, enquanto mal segurava na mão trémula a pena com que escrevia.
Jenny seguia com prazer todos estes sinais, e por eles conjecturava que estava sendo entendida.
– Verduras! – disse Manuel Quintino, procurando desculpar Carlos.
– Que importa que o sejam? São motivo bastante para nos fazer sofrer a todos.
Jenny insistiu muito nisto, exagerou as cores sombrias com que pintou o horizonte doméstico. Nisto falava ainda, quando Mr. Richard entrou no escritório. Jenny receou que qualquer pergunta dele inutilizasse todo o artifício, e por isso correu ao encontro do pai e, fingindo abraçá-lo, disse-lhe ao ouvido:
– Não se refira a nada do que há pouco lhe disse e demore-se aqui no escritório.
Mr. Richard fez, sorrindo, um sinal de assentimento.
Jenny sustentou uma conversa insignificante, sem nunca perder de vista Paulo, cuja turbação indicava uma violenta luta interior. Jenny agourava bem do que ia observando nele.
Enfim, deixou afrouxar a conversa e fez ao pai sinal para que entrasse no gabinete. Mr. Whitestone assim o fez.
A agitação de Paulo cresceu. Jenny espiava-lhe todos os movimentos e expressões. Viu-o pousar a pena e erguer-se, como movido por forte resolução. Jenny tremeu de sobressalto! Depois fez-se pálido, passou a mão pela fronte e sentou-se outra vez.