Uma Família Inglesa - Cap. 1: I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor Pág. 5 / 432

Nos tipos ingleses, que as ondas do oceano arrojam todos os dias às nossas praias, é este fenómeno mais vulgar do que porventura se pensa.

Cada uma dessas figuras britânicas vale por um protesto mudo, mas eloquente, contra os velhos preconceitos de poetas e de escritores meridionais.

Teimam de facto estes em que são indispensáveis os vívidos raios do nosso desanuviado Sol, ou a face desassombrada da Lua no firmamento peninsular, onde não tem, como a de Londres – a romper a custo um plúmbeo céu – para verterem alegrias na alma e mandarem aos semblantes o reflexo delas; imaginam fatalmente perseguidos de spleen, irremediavelmente lúgubres e soturnos, como se a cada momento saíssem das galerias subterrâneas de uma mina de pit-coal, os nossos aliados ingleses.

Como se enganam ou como pretendem enganar-nos!

É esta uma ilusão ou má-fé, contra a qual há muito reclama debalde a indelével e acentuada expressão de beatitude, que transluz no rosto iluminado dos homens de além da Mancha, os quais parece caminharem entre nós, envolvidos em densa atmosfera de perene contentamento, satisfeitos do mundo, satisfeitos dos homens e, muito especialmente, satisfeitos de si.

Nem é para admirar que o romancista inglês James ousasse abrir o primeiro capítulo de um romance seu com a seguinte exclamação:

«Merry England! Oh, merry England!», alegre Inglaterra! oh! alegre Inglaterra!

E por que se não há-de chamar alegre à Inglaterra? Como se generalizou a infundada crença de que o inglês é por força melancólico?

É uma destas abusões, para lhe não dar nome pior, contra as quais ninguém se precavê com suficiente critério filosófico.

Repare o leitor imparcial para qualquer dos membros da colónia inglesa, à qual Mr. Richard Whitestone pertencia,





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