Mr. Whitestone ensaiara nas pobres uma espécie de rega, à qual grande número sucumbiu. Era um líquido artificial de uma composição indigesta, e em que ele procurara reunir todos os elementos que julgara mais próprios para lhes desenvolver a vegetação.
– Isso queima-lhe as folhinhas! – aventurou-se a dizer Manuel, vendo Mr. Richard a temperar aquela caldeirada.
– Cala a boca, tolo. Verás como ficarão viçosas.
À vista do resultado, Mr. Richard teve porém de abandonar o processo, mas sem se dar por vencido.
– É que estes vasos são pouco porosos… Hei-de mandar vir de Londres uns.
Era uma maneira muito de Mr. Richard, esta de sair das situações apertadas. Apelava sempre para Londres, como fiel inglês que era.
Nestes entretenimentos levava pois o tempo até à hora do lunch.
Voltava então a casa. Era uma verdadeira hecatombe de ostras qualquer refeição destas. O mercado do Porto a custo pode satisfazer as exigências dos numerosos malacozoófagos da colónia inglesa, entre os quais Mr. Whitestone ocupava lugar eminente. O roast-beef à inglesa, ou o fiambre, a mostarda, as batatas, a bolacha, a cerveja, o queijo de consistência pastosa forneciam também estes lunchs, acomodados à robustez daquele estômago saxónio, descendente dos que ainda no quinto século da era cristã eram antropófagos – segundo afirma o autor da Viagem de Jersey a Granville.
Carlos fazia de ordinário companhia ao pai neste repasto matinal. Mr. Richard gostava de ver o filho junto de si em tão solenes momentos, conquanto não trocasse com ele meia dúzia de palavras; passados os cumprimentos iniciais, era costume seu abrir o Times e acompanhar o acto manducatório da leitura deste interminável jornal, interrompendo-a apenas por alguma curta frase a recomendar ou a criticar um ou outro prato.