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Capítulo 5: V - Uma manhã de Mr. Richard

Página 54

Mr. Whitestone ensaiara nas pobres uma espécie de rega, à qual grande número sucumbiu. Era um líquido artificial de uma composição indigesta, e em que ele procurara reunir todos os elementos que julgara mais próprios para lhes desenvolver a vegetação.

– Isso queima-lhe as folhinhas! – aventurou-se a dizer Manuel, vendo Mr. Richard a temperar aquela caldeirada.

– Cala a boca, tolo. Verás como ficarão viçosas.

À vista do resultado, Mr. Richard teve porém de abandonar o processo, mas sem se dar por vencido.

– É que estes vasos são pouco porosos… Hei-de mandar vir de Londres uns.

Era uma maneira muito de Mr. Richard, esta de sair das situações apertadas. Apelava sempre para Londres, como fiel inglês que era.

Nestes entretenimentos levava pois o tempo até à hora do lunch.

Voltava então a casa. Era uma verdadeira hecatombe de ostras qualquer refeição destas. O mercado do Porto a custo pode satisfazer as exigências dos numerosos malacozoófagos da colónia inglesa, entre os quais Mr. Whitestone ocupava lugar eminente. O roast-beef à inglesa, ou o fiambre, a mostarda, as batatas, a bolacha, a cerveja, o queijo de consistência pastosa forneciam também estes lunchs, acomodados à robustez daquele estômago saxónio, descendente dos que ainda no quinto século da era cristã eram antropófagos – segundo afirma o autor da Viagem de Jersey a Granville.

Carlos fazia de ordinário companhia ao pai neste repasto matinal. Mr. Richard gostava de ver o filho junto de si em tão solenes momentos, conquanto não trocasse com ele meia dúzia de palavras; passados os cumprimentos iniciais, era costume seu abrir o Times e acompanhar o acto manducatório da leitura deste interminável jornal, interrompendo-a apenas por alguma curta frase a recomendar ou a criticar um ou outro prato.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 54

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432