Por isso a ausência de Carlos nesta manhã cavou-lhe uma ruga de descontentamento na fronte, que os ares do jardim haviam expandido, e suspendeu-lhe a ária festiva, mas por ele um tanto estragada, que entre dentes vinha trauteando ao entrar na sala.
Esta música era a de uma das melodias de Russell, popularíssimo compositor e vocalista inglês, a cujas salas, por aquele tempo, corria em Londres a multidão ávida e entusiasta, com o fim de ouvir cantar as próprias composições, que ele mesmo acompanhava ao piano. Nas salas, nos teatros, nas ruas e nos campos, tanto na Inglaterra, como na América do Norte, lê-se em notícias dessa época, repetiam-se as composições deste músico notável, cujo carácter nacional se aperfeiçoara na convivência da escola italiana, sem perder com isso, diz-se, o cunho da originalidade.
De entre a colecção de melodias ou cantos populares, publicadas naquele ano em Londres, e procuradas com alvoroço pelos amadores nacionais espalhados por todo o mundo, havia uma que Mr. Richard sobre todas amava. Era essa a que vinha trauteando ao entrar na sala.
Tanto na índole desta música, como na da letra, que assina o nome do dr. Mackay, encontrava-se de facto muito do característico génio inglês, para justificar de sobra esta preferência.
É um canto de animação aos numerosos bandos de emigrados que de todos os pontos da Grã-Bretanha partem a cruzar os mares, à procura da riqueza e, sem lágrimas, se despedem do berço natal, que todavia amam com fervor. Se é lícito admitir que, nestas lutas travadas no seio da sociedade actual para conquistar a riqueza, pode ainda incidir um raio daquele esplendor épico, de que se iluminam os trabalhos análogos do mitológico Jason, decerto os ingleses são os heróis dessas epopeias modernas.