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Capítulo 9: IX - No escritório

Página 95
Ele tudo queria feito com tempo, e, a cada momento, dizia: «para pressas é que não era»; graças, porém, à paciência e à regularidade de trabalho, que não perdia nunca, insensivelmente o serviço adiantava-se-lhe nas mãos e difícil seria acharem-no atrasado alguma vez.

Observava pontualmente o judicioso preceito: festina lente, e comprovava, com o exemplo, a eficácia dele.

Queria Manuel Quintino imensamente àquele escritório, tal qual se achava, assim mesmo desataviado e nu. Por vezes, Mr. Richard, e principalmente Carlos, haviam procurado realizar nele certos melhoramentos que o fizessem mais cómodo; tiveram, porém, de recuar diante das repugnâncias do velho guarda-livros, que declarou afligir-se deveras com isso; e, como era ele a parte mais interessada no caso, visto que ali passava grande parte da vida, foi-lhe fácil vencer.

Em resultado disso, continuava a deliciar-se com aquelas quatro paredes escuras, com o tecto de castanho apainelado, que o tempo enegrecera, com o chão áspero e picado pelos insectos, com as janelas de construção antiga, de pequenos caixilhos e abundantes em fechos, aldrabas e postigos, com a porta de fortaleza, cujos gonzos perros tinham um chiar que era para Manuel Quintino como o timbre de uma voz de amigo, agradável ainda quando pouco harmoniosa, com as escrivaninhas, os mochos, os cabides, o lavatório e toda a mobília enfim, feita segundo os velhos modelos dos escritórios antigos.

Eram aquelas as testemunhas do encanecimento dos seus cabelos; como tais as amava.

Além de Manuel Quintino, compunha-se o pessoal do escritório de dois segundos-caixeiros e um rapaz de serviço, a todos os quais o guarda-livros acusava constantemente de mandriões e ao mesmo tempo quase os impedia de trabalhar, pela excessiva disposição que tinha para fazer tudo por suas mãos.

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pág. 95 (Capítulo 9)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 95

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432