Tom faltou realmente à escola e andou a divertir-se. Voltou para casa precisamente na altura de ajudar Jim, o pretinho, a serrar a lenha para o dia seguinte e a rachar os cavacos antes da ceia, e chegou pelo menos a tempo de contar as suas aventuras a Gim, enquanto este fazia três quartos do trabalho. A tarefa que competia ao irmão mais novo de Tom - ou antes, ao meio-irmão de Tom -, Sid, e que era juntar os cavacos, estava já quase toda feita, porque Sid era um rapaz sossegado que não tinha aventuras, nem fazia maldades.
Enquanto Tom ceava e roubava torrões de açúcar sempre que podia, a tia Poliu fez-lhe várias perguntas cheias de malícia e muito profundas, porque queria armar-lhe uma ratoeira e levá-lo a fazer revelações. Como muitas outras pessoas de alma simples, a sua maior vaidade era julgar-se dotada de um talento especial para as complicações diplomáticas e gostava de admirar as suas mais ingénuas artimanhas, como maravilhas de habilidade. Assim, perguntou:
- Não achaste que estava hoje muito calor na escola?
- Sim, tia.
- Mesmo muito quente, não?
- Sim, tia.
- Não te apeteceu ir nadar, Tom?
Tom sentiu passar através do seu espírito qualquer coisa como uma suspeita e olhou para o rosto da tia Poliu. Não percebendo nada, respondeu:
- Não, nem por isso.
A senhora estendeu a mão para apalpar a camisa de Tom e observou:
- Mas não estás muito quente agora, apesar disso.
Lisonjeava-a a ideia de ter descoberto que a camisa estava seca, sem ninguém perceber a sua intenção. Mas Tom adivinhou-lhe o pensamento e calculou qual ia ser a pergunta seguinte.