Dentro de minutos a notícia correu, e uma dúzia de barcos, cheios de homens, seguiu rio abaixo em direcção à gruta; daí a pouco partiu o vapor carregado de passageiros. Tom Sawyer seguia no mesmo barco do juiz Thatcher.
Quando a porta da caverna foi aberta, deparou-se à vista de todos um triste espectáculo. Injun Joe estava estendido no chão, morto, com a cara junto da frincha da porta, como se nos últimos momentos os seus olhos ansiosos se tivessem fixado na luz do dia e na alegria da liberdade. Isto comoveu Tom, que sabia por experiência própria quanto o infeliz devia ter sofrido. No entanto, apesar de isto lhe despertar piedade, deu-lhe também uma sensação de alívio e segurança, que o fez avaliar como nunca o peso do receio que pesava no seu espírito desde o dia em que erguera a voz contra Injun Joe no tribunal.
A navalha curva do morto estava ao lado dele, com a lâmina quebrada em duas. Tinha-se servido dela para tentar cortar a soleira da porta. Este trabalho, tão difícil e penoso, fora em absoluto inútil, porque a soleira era de rocha e formava um pequeno degrau, cuja parte mais alta ficava do lado de fora. O único dano fora o da própria navalha. Mas, ainda que não houvesse aquela obstrução, a navalha não conseguiria nunca abrir uma fenda suficientemente larga para dar passagem ao corpo de Injun Joe, e ele sabia-o. Era, pois, fácil de concluir que se entregara àquele labor só para fazer alguma coisa, passar o tempo, que parecia não ter fim, e gastar as suas energias.
Era costume encontrarem-se no vestíbulo muitos bocados de vela que, ao sair de lá, os turistas deixavam entalados nas fendas das rochas, mas naquela ocasião não havia nenhum, porque o prisioneiro os tinha comido. Conseguira também apanhar alguns morcegos que comera, deixando apenas as unhas. O desgraçado tinha morrido de fome. Perto dele, uma estalagmite tinha-se elevado do chão, formada pelas gotas de água que caíam duma estalactite por cima dela. O cativo quebrara a estalagmite, sobre a qual pusera uma pedra, onde abrira um buraco com o fim de receber a gota que caía de três em três minutos, com a regularidade do bater de um relógio, numa quantidade que chegaria para encher uma colher de sobremesa em cada vinte e quatro horas. Essa gota já caía quando se fizeram as pirâmides; quando Tróia foi destruída; quando Cristo foi crucificado; quando o Conquistador criou o Império Britânico; quando Colombo navegou; quando o morticínio de Lewingston foi uma novidade.