As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 46 / 174

Apareceu então Joe Harper, tão bem vestido e armado como Tom. Este gritou-lhe:

- Alto! Quem se atreve a entrar sem minha licença na floresta de Sherwood?

- Guy de Guisborne não precisa de licença de ninguém. E tu quem és que... que...

- Ousas falar desse modo? - disse Tom, servindo de ponto, porque eles falavam de cor, mas «segundo o livro».

- E tu quem és, que ousas falar desse modo?

- Eu? Sou Robin Hood, como a tua vil carcaça em breve saberá.

- Então és tu, de facto, esse famoso proscrito! De bom grado disputarei contigo os caminhos da alegre floresta. Em guarda!

Puxaram pelas espadas de madeira, puseram no chão as outras armas, tomaram uma atitude de combate e principiaram a esgrimir.

- Agora, se és audacioso, despacha-te!

Assim, lá se «despacharam», ofegantes e transfigurados do esforço, mas, dentro de instantes, Tom gritou:

- Cai, anda! Porque não cais?

- Não caio. Porque não cais tu, que estás mais maltratado do que eu?

- Isto não é nada e eu não posso cair, porque não é assim que está no livro. O livro diz: «Então, com um golpe traiçoeiro, ele matou pelas costas o pobre Guy de Guisborne.» Tens de te virar para eu poder ferir-te pelas costas.

As ordens de quem tem autoridade não se discutem, por isso Joe virou-se, recebeu o golpe e caiu.

Mas logo, levantando-se, disse:

- Agora tens de te deixar matar. Assim é que está certo.

- Não posso, porque não é assim que está no livro.

- Não há direito!

- Bom, Joe, só se tu fores o Frei Tuck ou Much, o filho do moleiro, e me sovares com um grande pau, ou eu sou o xerife de Nottingham e tu és por um bocadinho Robin Hood, para me matares.

Era uma boa solução, e como tal foi aceite. Em seguida, Tom voltou a ser Robin Hood e teve do frade traiçoeiro licença para lhe tirar a vida. Por fim, Joe, representando sozinho toda uma tribo de proscritos em lamentos, arrastou-o tristemente dali, pôs-lhe nas mãos enfraquecidas o seu arco, e Tom disse:

- No lugar em que cair esta, seta, sepultem o pobre Robin Hood sob as árvores da floresta.

Disparou a seta e deitou-se para trás na intenção de morrer, mas caiu sobre um maciço de ortigas e saltou com ímpeto, impróprio de um cadáver.

Vestiram-se os dois rapazes, esconderam os seus apetrechos de guerra e afastaram-se lamentando que já não houvesse proscritos, pois não sabiam ao certo se a civilização moderna seria suficiente para compensar a perda destes. Pela sua parte, concordavam em que qualquer deles acharia preferível ser um proscrito durante um ano na floresta de Sherwood a presidente dos Estados Unidos para toda a vida.





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