A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 8: VIII Pág. 114 / 508

fez germinar, envolverem-se as folhas, estenderem-se e enflorarem-se os ramos, penderem os frutos e colorirem-se das tintas da madureza; mas, enquanto vergado, coberto de suor, arquejante, se afadiga a arrotear o terreno duro, e quem sabe se ingrato aos seus cuidados, muita vez lhe falece o alento, e, se olha de quando em quando para o Céu, não é para lhe agradecer com risos os gozos que ele lhe dá; mas para lhe pedir, com lágrimas, a força que lhe mingua.

De igual modo, se é grato ao cultor das inteligências o vê-las desenvolver, florir, frutificar; árdua, ímproba, desesperadora é muita vez a tarefa da sua primeira educação. É mister possuir um grande tesouro de ideal, para que o suave e risonho tipo, que da infância concebemos, não se transtorne, na fantasia destas vítimas dela, em não sei que figura diabólica e maligna, que lhes envenena todos os momentos de alegria.

Além disso, o pobre professor de instrução primária, sobre quem pesam os mais fastidiosos encargos da instrução, não pode ser comparado absolutamente ao agricultor do nosso símile; é antes o jornaleiro contratado por magro salário, para, à força de braço, lavrar o solo, donde, mais tarde, romperá a vegetação, que ele não terá de ver e que a outros concederá os gozos e o benefício. Venceu também o humilde professor, e por o mesmo preço que o jornaleiro, que não vão mais longe com ele as liberalidades dos nossos governos, venceu as maiores cruezas do magistério, mas não terá também o resultado das suas fadigas. Fogem-lhe as inteligências que educou, justamente quando com mais amor as devia contemplar, e, se o destino reserva a qualquer dessas inteligências um futuro de glórias, raro é que volvam um olhar agradecido para as humildes mãos que as sustentaram, quando ainda não tinham asas para voar.





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