A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 20: XX Pág. 312 / 508

de fora, viera encontrar quase morta a mulher que chorava ainda, a mãe de Ermelinda? Fenómenos que se perdem na parte obscura da vida moral, da qual ainda a análise não conseguiu devassar as sombras.

Crescia o sobressalto do pobre homem ao pousar os pés nos primeiros degraus da escada de pedra. Ao passar pela porta do compadre, não tivera coragem de perguntar; receou sair da incerteza.

Foi quase a tremer que empurrou diante de si a porta da casa, que encontrou aberta.

Logo ao entrar, recuou espantado e não reprimiu uma exclamação de surpresa.

Fora a causa o achar novidades na primeira sala.

Deu com os olhos numa fileira de pequenas cruzes de pau-preto que cercavam as paredes, e em alguns caixilhos com imagens de santos, que não deixara ali ao partir. E ninguém a recebê-lo.

- Credo! - disse o Cancela, desgostoso. - Para longe o agoiro! Cruzes negras à chegada! São coisas da comadre. Maldita velha! Jurou meter-me cismas em casa e na cabeça da rapariga, e, se não lhe acudo...

- Ermelinda! - exclamou, chamando por a filha.

Como não recebesse resposta, passou para os aposentos interiores.

À entrada do corredor descobriu uma pequena pia de louça, cheia de água benta, em que mergulhava um ramo de alecrim.

- Mau! - disse o Herodes, cada vez mais descontente. - Vou vendo que a minha comadre fez por aqui das suas. Ora queira Deus... queira Deus... Ermelinda!

E correu toda a casa, que não tinha muito que correr, e explorou o quintal, sem achar a filha; já inquieto, chegou a um quarto mais retirado, o único que ainda não revistara. A porta estava fechada por dentro, porém a pequena cravelha fraca resistência opôs à pressão que na porta exerceu o Herodes.

Franqueando assim a passagem, parou no limiar.

Moveu-se, ao ruído que ele fez, um vulto que parecia ajoelhado num canto escuro do quarto.





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