A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 21: XXI Pág. 324 / 508

XXI

O acto violento do Cancela, contra a pessoa do missionário, foi assunto das conversações gerais de toda a aldeia. Era com indignação que se comentava a façanha. Dizia-se que o Cancela fora apenas o instrumento de que se servira a gente do Mosteiro para se vingar do padre, pela ocorrência da tarde do sermão.

Os adversários do conselheiro aproveitaram o ensejo que se lhes oferecia para lhe alienarem simpatias e tentarem um cheque, pelo qual havia muito suspiravam.

O missionário e os seus ardentes sequazes foram dos mais acerbos propugnadores destas ideias, que reforçavam com muitas acusações de heréticos e de ímpios, contra todos os membros da família do conselheiro.

A política viu nisto uma arma favorável para combater o adversário, e não a desprezou. Depois veio a portaria a respeito do cemitério, manifestamente devida à iniciativa do pai de Madalena, e impopularíssima na aldeia, aumentar a irritação dos ânimos e servir de tema a uma violenta diatribe do missionário contra a impiedade da época, que nem aos fiéis concedia a santa consolação de repousar à sombra dos templos.

Tudo isto começou, pois, a fomentar uma reacção contra o conselheiro, a qual ameaçava o resultado da sua candidatura.

Não pequena parte nesta guerra surda, que principiara a lavrar, tomava o seu companheiro de infância e particular amigo, o brasileiro Seabra.

Nunca ele sentira entranhada no coração metade da benquerença que aparentemente ostentava para com o conselheiro; mas, depois de uma conferência que tivera com mestre Pertunhas, tornara- se mais manifesta a sua hostilidade e menos observadora de etiquetas e rebuços.

Foi ele, por exemplo, quem teve o cuidado de lembrar que a família do conselheiro estava de posse de bens religiosos, circunstância que o missionário atendeu, clamando do púlpito contra os dilapidadores dos bens da Igreja.





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