A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 22: XXII Pág. 353 / 508

Desviou-os, porém, como se até sentisse remorsos de ter escutado as alusões de Henrique sobre o carácter de um homem que ela se costumara a respeitar. Porque o leitor, cuja inteligência é, sem lhe fazer favor, mais perspicaz do que a de D. Vitória, percebeu decerto que era a Augusto que se referiam os vagos termos trocados entre Henrique e Madalena.

- Muito bons dias, Sr. Augusto - disse D. Vitória afavelmente. - Então são horas de me vir aturar a pequenada? Não lhe invejo a vida. Sabe? De manhã até à noite a aturar crianças! Deus me livre!

- Agora já não sucede assim, minha senhora. Estou dispensado de parte das minhas obrigações - disse Augusto, depois de cortejar as senhoras e Henrique.

- Como?

- Pois V. Ex.ª não sabe que já foi nomeado outro professor para o meu lugar?

- Que me diz?

Em todas as pessoas presentes produziu sensação esta notícia.

D. Vitória e a Morgadinha fixaram em Augusto um olhar interrogador. O gesto de Henrique tinha uma expressão particular.

- Recebi há dias a participação oficial - continuou placidamente Augusto.

- Mas - prosseguiu D. Vitória - o mano tinha aqui dito que o seu despacho estava seguro, que, além de ser de toda a justiça, ele o tomaria a seu cuidado. E então agora... Olhem, sabem que mais? Eu cada vez me entendo menos com esta gente. Isto de políticos...

Madalena inclinou a cabeça, suspirando.

- Bem vê V. Ex.ª - disse Augusto, com leve tom de amargura - que às vezes há grandes interesses sociais dependentes do despacho de um modesto professor de instrução primária da aldeia, e, portanto, não se deve estranhar que um homem político atendesse a eles antes de tudo.

Madalena que, ao ouvir estas palavras, levantara os olhos, encontrou os de Henrique, que parecia procurarem os dela com intenção.





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