A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 5: V Pág. 69 / 508

Henrique correspondeu delicadamente à saudação das senhoras e procurou justificar os criados.

- Não mos desculpe! - atalhou D. Vitória, elevando outra vez o tom de voz. - Aquilo é de propósito para fazerem ficar mal uma pessoa; ninguém me tira isto de cabeça... Aquilo é de propósito!

- Mas a mamã não vê que as criadas estavam connosco à novena? - lembrou timidamente Cristina.

- Pois que não estivessem. Quem tem serviço a fazer não pode ouvir novenas.

- Mas se a mamã é que as mandou!

- Pois... pois... pois sim... mas... mas elas é que me deviam dizer que tinham que fazer. Então eu é que lhes hei-de estar a lembrar as suas obrigações? Não me faltava mais nada! Ora tens coisas, menina! Mas então vamos a saber, primo Henrique, fez bem a sua jornada? Henrique principiou a falar para desvanecer a irritação de D. Vitória.

Como nós já sabemos dos pormenores de tal jornada, aproveitaremos a ocasião para dizer duas palavras a respeito das novas personagens que estão em cena.

D. Vitória, havendo atingido já a idade respeitável dos quarenta e tantos anos, dispensa-nos grandes longuras e esmeros de descrição. Basta que o leitor saiba que era uma senhora nutrida, bondosa no fundo, e que sabia trazer muito bem os vestidos escuros da sua viuvez. Impertinente com os criados, doida pelos filhos e sobrinhos, muito sujeita a esquecimentos e confundindo-se facilmente sempre que tentava forçar o espírito a abraçar alguma ideia mais complexa; mãos-rotas com a pobreza; intolerante, em teoria, com os ladrões e malfeitores, porém felizes deles se daquelas mãos lhes dependesse a condenação: eis o que era D. Vitória. Cristina, porém, tinha dezanove anos; e esta idade goza de privilégios, que eu não posso infringir. O leitor não me perdoaria, se me visse passar estouvadamente por diante da prima de Madalena, sem um olhar de homenagem à sua juventude e ao seu tipo feminino.





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