A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 1: I Pág. 8 / 508

olhos para o fundo vale, que se lhe abria à esquerda, velado pela densa névoa daquela atmosfera saturada de humidade, nem prestava atenção à agreste e selvática paisagem do lado direito, toda encrespada de pinheirais nascentes e de espinhosas tojeiras.

Os olhos procuravam, em ansiosa interrogação, o mais alto da flexuosa ladeira, que subia, no sítio em que ela, formando um cotovelo, furtava à vista o seguimento ulterior.

Nestas curvas das estradas sorri sempre de longe ao viajante, cansado e aborrido, que pela primeira vez as trilha, uma prometedora esperança.

- Dali verei talvez o termo do caminho - pensa ele.

Mas quantas vezes, ao aproximar-se, esta esperança lhe foge! Assim aconteceu a Henrique, que ao chegar à almejada inflexão e quando esperava principiar, enfim, a descer para o vale e aproximar- se da aldeia, viu que o macho, prático no caminho, e à disposição de cujo instinto ele colocara a razão, dobrava ainda para a direita e continuava a contornar e a subir o monte. A espiral não terminara ainda. Henrique olhou em torno de si, profundou a vista nas sombras do vale, nada pôde descobrir que lhe prometesse a aldeia procurada. Muita árvore, povoação nenhuma! Teve um paroxismo de impaciência!

- Isto não é estrada! - exclamou ele, exasperado. - São os nove círculos do Inferno de Dante virados para fora.

E a luz do dia a fugir cada vez mais, e a chuva a aumentar, a calar através do grosso gabão de jornada que Henrique vestia! O desgraçado vergava sob o peso da sua consternação.

Ajuntou-se-lhe outra vez o almocreve, assobiando com fleuma desesperadora.

- Com um milhão de demónios! - bradou-lhe Henrique, não podendo conter-se. - Essa maldita terra foge diante de nós, homem!

- Estamos quase lá, meu patrão.





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