Uma Família Inglesa - Cap. 13: XIII - Vida portuense Pág. 140 / 432

Pelas suas mãos, de bem pequenas afeitas ao trato doméstico, tão escrupulosamente regulados andavam os capitais, que não só satisfaziam ao necessário, mas derivavam-se ainda para o que se pode já dizer supérfluo.

Escusado é quase acrescentar que Cecília era o ídolo de Manuel Quintino. Nela se concentravam todas as afeições do velho. Tinha apenas seis anos a filha, quando lha deixara confiada a esposa, que ele chorava ainda; enquanto cercava a inocente de constante vigilância e de cuidados assíduos que, por inspiração do coração, soubera amenizar de carinhos e de meiguices verdadeiramente maternais, robusteceu-se-lhe aquele amor a ponto de referir daí por diante a ele todos os outros sentimentos que o moviam.

Nunca lhe pareceu demasiada qualquer despesa feita com Cecília.

Empenhou-se em dar-lhe uma educação esmerada e conseguiu-o.

Exultava de prazer, vendo crescer, em vida, em inteligência, em bondade, aquela bonita criança, junto de cujo berço velara noites e noites, cismando no futuro dela.

Pouco a pouco, deixara-se possuir de um respeito, de uma veneração pela filha, que tinha seus vislumbres de idolatria.

A primeira madeixa loira cortada aos cabelos de Cecília, ainda menina, trazia-a o velho sempre consigo, como talismã milagroso; o menor bilhete, dos que ela lhe escrevia para o escritório, a respeito de qualquer negócio doméstico, arquivava-o, como relíquia, que seria profanação deixar perder.

Tinha puerilidades Manuel Quintino! – puerilidades que só farão rir aos poucos que as não tenham tido iguais. Movia-o, quase até às lágrimas, qualquer frase afectuosa daquelas insignificantes correspondências.

Como ele era feliz lendo, no alto do bilhete, por exemplo: «Meu bom pai» ou «Meu querido pai», e no fim dele – «sua extremosa filha» ou «sua filha obediente».





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