Escusado é quase acrescentar que Cecília era o ídolo de Manuel Quintino. Nela se concentravam todas as afeições do velho. Tinha apenas seis anos a filha, quando lha deixara confiada a esposa, que ele chorava ainda; enquanto cercava a inocente de constante vigilância e de cuidados assíduos que, por inspiração do coração, soubera amenizar de carinhos e de meiguices verdadeiramente maternais, robusteceu-se-lhe aquele amor a ponto de referir daí por diante a ele todos os outros sentimentos que o moviam.
Nunca lhe pareceu demasiada qualquer despesa feita com Cecília.
Empenhou-se em dar-lhe uma educação esmerada e conseguiu-o.
Exultava de prazer, vendo crescer, em vida, em inteligência, em bondade, aquela bonita criança, junto de cujo berço velara noites e noites, cismando no futuro dela.
Pouco a pouco, deixara-se possuir de um respeito, de uma veneração pela filha, que tinha seus vislumbres de idolatria.
A primeira madeixa loira cortada aos cabelos de Cecília, ainda menina, trazia-a o velho sempre consigo, como talismã milagroso; o menor bilhete, dos que ela lhe escrevia para o escritório, a respeito de qualquer negócio doméstico, arquivava-o, como relíquia, que seria profanação deixar perder.
Tinha puerilidades Manuel Quintino! – puerilidades que só farão rir aos poucos que as não tenham tido iguais. Movia-o, quase até às lágrimas, qualquer frase afectuosa daquelas insignificantes correspondências.
Como ele era feliz lendo, no alto do bilhete, por exemplo: «Meu bom pai» ou «Meu querido pai», e no fim dele – «sua extremosa filha» ou «sua filha obediente».