Cecília trabalhava, certa noite, em uma camisa de paninho para o pai.
– Que nome se dá a isso que está a fazer? – perguntou Carlos, curvando-se sobre a costura.
– É uma camisa – respondeu Cecília, sorrindo. – Pois nem conhece!?
– Que é uma camisa sei eu; não perguntava isso; mas… essa costura em que está agora a trabalhar, como se chama?
– Isto? É um posponto!
– Ah! Um posponto!… Um posponto é a mesma coisa que um sobrecosido; pois não é?
Cecília desatou a rir a esta pergunta.
– Não, senhor, não é. Nem tem nada uma coisa com outra.
– Não?! Pois olhe… parece, porque… posponto é… como quem diz: depois do ponto; sobrecosido, sobre ou depois de cosido, e portanto… depois do ponto também.
– Será; mas… em todo o caso, são coisas diversas.
– Então que diferença fazem?
– Ora que curiosidade! Há-de interessar-lhe muito agora conhecer essa diferença.
– E por que não? Não vê que ando com vontade de ampliar os meus conhecimentos? Não tem reparado na minha docilidade a ouvir as lições de escrituração?
– Mas essas podem servir-lhe.
– Mas vamos; um posponto é isso; muito bem. E agora um sobrecosido?
Cecília, rindo, procurou, na obra que estava a fazer, o exemplo já realizado de um sobrecosido e mostrou-o a Carlos, dizendo:
– Aí está um sobrecosido. Agora estude a diferença a ver se a sabe explicar.
Carlos examinou-o com aparente atenção e a mais composta seriedade.
E Cecília interrompia o trabalho, só por causa disto.
– Então? – perguntou ela maliciosamente, quando Carlos deu mostras de haver terminado o exame.
– Reconheço que de facto são coisas diversas, mas não posso bem dizer em que consiste a diferença.
– O que o deve afligir muito.
– Mas diga – insistia Carlos, que parecia deveras empenhado em elucidar este negócio dos pospontos – todas as costuras se fazem a posponto?…
Cecília não podia escutar com seriedade este inquérito inesperado.