Uma Família Inglesa - Cap. 27: XXVII - O motivo mais forte Pág. 306 / 432

Nesta noite empregou na tarefa de se vestir um esmero, para que raras vezes lhe sobrava paciência.

Parecia estar-se aprontando para um baile.

– Que importuna ocasião escolheu este Mr. Smithfield para a sua visita! – pensava Carlos, enquanto ajustava ao espelho o laço da gravata de seda. – Por causa dele é que Jenny me deixou assim pesaroso… Mas donde virá a exagerada apreensão que ela mostra desta vez? – E vestia o colete branco. – Não a devia tranquilizar o conhecimento que tem de Cecília? Não devia até desejar que o meu coração se fixasse aqui, que não fosse mais longe? Só se receia de mim… Verdade é que o meu passado… Oh! Mas desta vez…

No meio de uma turba de agradáveis pensamentos desvaneceu-se a impressão penosa que lhe deixara a despedida da irmã.

Afagando-os a todos, terminou Carlos a sua aturada toilette e dispôs-se a partir, acompanhado por um cortejo de esperanças, tão vivas e palpitantes, que nem lhe deixavam sentir já o ligeiro remorso que, de mistura com elas, lhe havia entrado no coração.

Ia já a transpor o limiar da porta, quando um súbito rumor de vozes, de passos apressados e gritos agudos, como arrancados por a mais dolorosa tortura, o fizeram parar.

Informou-se, cheio de inquietação, do motivo daquele ruído.

– É a Sr.a Catarina, que está com um dos seus ataques – respondeu o criado a quem ele se dirigiu.

Eram tão frequentes estes acessos na velha Kate, que, desde que Carlos soube ser essa a causa do rumor que ouvira, não lhe deu mais importância e caminhou outra vez para a porta.

Redobrou porém a violência dos gritos, e tanta e tão crescente angústia exprimiam, que o génio de Carlos não lhe permitiu mais tempo ouvi-los impassível; obedecendo a generoso impulso, subiu apressado as escadas e entrou naquele mesmo quarto, onde já acompanhámos Jenny.





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