Uma Família Inglesa - Cap. 29: XXIX - Os amigos de Carlos Pág. 343 / 432

E estas palavras soube dizê-las Jenny com delicada flexão de ironia na voz, que aumentou o embaraço dos que a escutavam.

Curvando-se ligeiramente para eles, Jenny saiu da sala com Cecília.

Carlos não ousou erguer os olhos para a irmã.

Vendo-a sair, voltou-se para os seus antigos companheiros, que principiavam a formular desculpas, e disse-lhes com provocadora frieza:

– Espero que estará satisfeita a sua curiosidade. Ordenam mais alguma coisa?

– Desculpa, Carlos; nós julgámos…

– Tu bem vês que não sabíamos…

– Ó menino, acredita que…

– Palavra, que pensei que era a do dominó.

– Também eu.

– Espero que não leves a mal.

– Aquilo era brincadeira.

– Adeus, Carlos; aparece. Faz-te visível.

– Mil perdões e… e parabéns.

E deixaram o quarto.

Na rua diziam:

– E esta!

– Carlos casar-se!

– Requiescat in pace!

– Ámen.

A porta a fechar-se sobre o último, e Carlos a correr à biblioteca para ajoelhar aos pés da irmã.

– Jenny! Jenny! O amor que eu te tinha é pouco para o que te devo. É preciso adorar-te, minha irmã.

Jenny ergueu-o e, olhando-o com expressão triste e meiga, disse:

– Deixa esse excesso de afeição para alguém, que já agora tem mais direito a ela do que eu.

E apontou para Cecília que, chorando, escondia o rosto no seio da amiga.

Carlos dirigiu-se a ela comovido:

– Cecília, Cecília, quererá perdoar-me?

Cecília estendeu-lhe a mão, sem responder, nem levantar o rosto.

Carlos curvou-se para beijá-la.

Uma lágrima assomou aos olhos de Jenny.

Erguendo-os ao céu, murmurou, dirigindo-se talvez à imagem da mãe, presente à sua imaginação:

– Obrigada! Obrigada!

Que lhe agradeceria Jenny? A inspiração que dela lhe viera, decerto.





Os capítulos deste livro