Não o seguiremos agora na dissertação filológica, cujo corolário foi que, com o andar dos séculos, toda a humanidade falaria inglês – lei que, se se realizasse, talvez concorresse a produzir grave desafinação na celebrada harmonia dos orbes, pelo lado da humanidade.
Mr. Morlays tomou a palavra para ir à mão ao compatriota.
Como era de prever, não tinham tanto de lisonjeiras as vistas de Mr. Morlays sobre os destinos sociais. A humanidade, principalmente a que não era inglesa, não devia, pensava ele, bater palmas ao futuro que se lhe antolhava.
Sempre que meditava nestas coisas, Mr. Morlays, em vez de sorrir a utopias, sonhava catástrofes. Foi por isso que ponderou em tom lúgubre:
– Não creio, Mr. Brains, não creio que seja possível realizar-se dessa maneira e por o sucessivo progresso dos povos essa nacionalidade universal. Segundo o que eu tenho lido, o mundo, em que pousamos os pés, é essencialmente sujeito a convulsões; encerra um núcleo inflamado que, a cada momento, lhe está alterando a superfície. Grandes cataclismos tem já presenciado a humanidade, e quem sabe quantos presenciará ainda? Parte dos continentes que habitamos, segundo se lê nos livros dos naturalistas, foram outrora todos cobertos de águas; sendo de crer que nações de outros tempos estejam sepultadas hoje nos abismos do mar. Ora, se no futuro se operarem ainda dessas revoluções, como é plausível acreditar – a parte continental do globo será submergida, e do seio das águas surgirão superfícies não povoadas.