Uma Família Inglesa - Cap. 32: XXXII - Os convivas de Mr. Richard Pág. 368 / 432

Em todas as cinco partes do mundo é já familiar o inglês. A jovem América, nos seus elementos mais vigorosos, nos que hão-de vencer os outros, é de origem inglesa também. E depois, meu caro Mr. Richard, a França tem em si inoculado o princípio destruidor que há-de sacrificá-la; a França é papista, o que vem a ser o mesmo que estar condenada à morte. Demais, o carácter filosófico da língua inglesa…

Não o seguiremos agora na dissertação filológica, cujo corolário foi que, com o andar dos séculos, toda a humanidade falaria inglês – lei que, se se realizasse, talvez concorresse a produzir grave desafinação na celebrada harmonia dos orbes, pelo lado da humanidade.

Mr. Morlays tomou a palavra para ir à mão ao compatriota.

Como era de prever, não tinham tanto de lisonjeiras as vistas de Mr. Morlays sobre os destinos sociais. A humanidade, principalmente a que não era inglesa, não devia, pensava ele, bater palmas ao futuro que se lhe antolhava.

Sempre que meditava nestas coisas, Mr. Morlays, em vez de sorrir a utopias, sonhava catástrofes. Foi por isso que ponderou em tom lúgubre:

– Não creio, Mr. Brains, não creio que seja possível realizar-se dessa maneira e por o sucessivo progresso dos povos essa nacionalidade universal. Segundo o que eu tenho lido, o mundo, em que pousamos os pés, é essencialmente sujeito a convulsões; encerra um núcleo inflamado que, a cada momento, lhe está alterando a superfície. Grandes cataclismos tem já presenciado a humanidade, e quem sabe quantos presenciará ainda? Parte dos continentes que habitamos, segundo se lê nos livros dos naturalistas, foram outrora todos cobertos de águas; sendo de crer que nações de outros tempos estejam sepultadas hoje nos abismos do mar. Ora, se no futuro se operarem ainda dessas revoluções, como é plausível acreditar – a parte continental do globo será submergida, e do seio das águas surgirão superfícies não povoadas.





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