– Mais valiosa protecção encontra Cecília em si mesma – respondeu Jenny. – É um coração forte.
Manuel Quintino tinha a cabeça da filha encostada ao peito; ouvindo estas últimas palavras, cingiu-a ainda mais a si, e murmurou para Jenny, procurando não ser percebido por Cecília:
– Forte?… Era… enquanto lhe pertencia.
Jenny demorou o olhar nas feições do velho.
Aquela resposta dava a entender que algumas suspeitas lhe restavam ainda da verdade; que ele podia estar convencido já da inocência da filha, que podia julgar com menos severidade e dúvida as atenções e procedimentos de Carlos, mas sem haver fechado de tal maneira os olhos à evidência, que supusesse que nada havia de comum entre os corações dos dois.
Jenny respondeu, percebendo isto:
– Forte há-de sê-lo sempre; resta fazê-lo feliz.
– Se miss Jenny o não conseguir, quem mais o conseguirá?
– Trabalharei – disse Jenny, sorrindo.
– Dê-lhe a serenidade do seu coração e tê-la-á salvado.
Jenny, que abraçava neste momento Cecília, ouvindo estas palavras, meneou a cabeça, e, entre risonha e melancólica, disse ao ouvido da sua amiga:
– Não é assim que eu desejo salvar-te.
Pela primeira vez a tratava por tu.
Enquanto se passava esta cena, Carlos, de volta ao quarto, engolfava-se em pensamentos profundos. Tudo quanto lhe sucedera lhe estava reproduzindo a memória, e cópia de afectos e de paixões agitavam-lhe o coração em palpitar desordenado.
Que lhe competia fazer? Como devia sair da posição em que se achava? De que maneira compensar com uma resolução nobre, digna dos sentimentos que percebia no coração, a insuperável timidez que durante o jantar se apoderara dele?
Nisto pensava Carlos, quando o criado lhe entrou no quarto anunciando que Mr.