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Capítulo 34: XXXIV - Manuel Quintino alucinado

Página 391
Richard Whitestone o mandara chamar ao gabinete.

Carlos esperava esta entrevista, que, depois do sucedido, podia dizer-se inevitável; ele próprio a procuraria talvez espontaneamente; mas, apesar disso, não se sentia preparado para ela; nem outra coisa lhe sucederia, talvez, quando mais espaçada fosse.

Causou-lhe pois o efeito de imprevista.

Vacilavam-lhe os passos ao dirigir-se ao gabinete do pai, como se fora um réu, caminhando para o tribunal em que vai ser julgado.

Quando Carlos entrou, Mr. Richard estava em pé, encostado ao mármore do fogão. Tinha a expressão tão severa quanto era possível à sua fisionomia inglesa, e conservava na mão a carta de Carlos, como quem acabava de a ler naquele momento.

Carlos parou no meio da sala, esperando que o pai lhe dirigisse a palavra.

Mr. Whitestone estendeu para o filho a carta aberta, perguntando com modo rápido e incisivo:

– Que há de verdade nisto que se diz aqui?

– Tudo – respondeu Carlos, procurando dar à voz a firmeza que não sentia.

Mr. Whitestone enrugou a fronte ao ouvir a resposta; fez um leve movimento de ombros e de lábios, e, passando a carta para o filho, apenas lhe disse:

– Aí a tem. Rasgue-a, queime-a. Deve fazê-lo… porque destruirá assim a prova de uma nova… infâmia.

As faces de Carlos cobriram-se de intenso rubor.

– Meu pai! – balbuciou ele.

– Repito-o; de uma infâmia – prosseguiu Mr. Richard com redobrada acrimónia. – Não sou eu o primeiro que lho diz; e se já se calou vergonhosamente diante da primeira acusação, não é muito que escute a segunda com a mesma… humildade.

E, acabando de dizer isto, pôs-se a passear no quarto, como costumava quando assim exaltado, e continuou:

– É falso orgulho esse que… todo se alvoroça ao ouvir uma palavra e com tanta facilidade se conforma, ao que é bem pior, à feia acção que ela exprime.

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pág. 391 (Capítulo 34)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 391

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432