Richard Whitestone o mandara chamar ao gabinete.
Carlos esperava esta entrevista, que, depois do sucedido, podia dizer-se inevitável; ele próprio a procuraria talvez espontaneamente; mas, apesar disso, não se sentia preparado para ela; nem outra coisa lhe sucederia, talvez, quando mais espaçada fosse.
Causou-lhe pois o efeito de imprevista.
Vacilavam-lhe os passos ao dirigir-se ao gabinete do pai, como se fora um réu, caminhando para o tribunal em que vai ser julgado.
Quando Carlos entrou, Mr. Richard estava em pé, encostado ao mármore do fogão. Tinha a expressão tão severa quanto era possível à sua fisionomia inglesa, e conservava na mão a carta de Carlos, como quem acabava de a ler naquele momento.
Carlos parou no meio da sala, esperando que o pai lhe dirigisse a palavra.
Mr. Whitestone estendeu para o filho a carta aberta, perguntando com modo rápido e incisivo:
– Que há de verdade nisto que se diz aqui?
– Tudo – respondeu Carlos, procurando dar à voz a firmeza que não sentia.
Mr. Whitestone enrugou a fronte ao ouvir a resposta; fez um leve movimento de ombros e de lábios, e, passando a carta para o filho, apenas lhe disse:
– Aí a tem. Rasgue-a, queime-a. Deve fazê-lo… porque destruirá assim a prova de uma nova… infâmia.
As faces de Carlos cobriram-se de intenso rubor.
– Meu pai! – balbuciou ele.
– Repito-o; de uma infâmia – prosseguiu Mr. Richard com redobrada acrimónia. – Não sou eu o primeiro que lho diz; e se já se calou vergonhosamente diante da primeira acusação, não é muito que escute a segunda com a mesma… humildade.
E, acabando de dizer isto, pôs-se a passear no quarto, como costumava quando assim exaltado, e continuou:
– É falso orgulho esse que… todo se alvoroça ao ouvir uma palavra e com tanta facilidade se conforma, ao que é bem pior, à feia acção que ela exprime.