– Miss Jenny, a que serviços devo eu uma tão generosa recompensa?
– Serão poucos os de dezoito anos de fidelidade, Manuel Quintino? Vamos – continuou sorrindo –; querem ver que nos sai um desconfiado? Asseguro-lhe eu, Jenny – continuou com voz firme e grave, porque julgou divisar um raio de desconfiança no olhar de Manuel Quintino –, asseguro-lhe eu, que vi escrever essa carta e que beijei, reconhecida, a mão que a escreveu, asseguro-lhe que pode e que deve aceitar a mercê – se mercê se pode chamar – com a certeza de que a obteve por nobres e reais serviços.
Estas palavras desarmaram Manuel Quintino. Todas as sombras suscitadas pela leitura se desfizeram.
Havia-lhe de facto ocorrido que lhe queriam compensar daquela maneira as tenções, menos leais, de Carlos para com a filha, e, com esta ideia, o orgulho e o despeito, mal sopeados ainda, revoltaram-se-lhe no coração outra vez.
Mas o conceito em que tinha Jenny não lhe deixava suportar estes escrúpulos, desde que por ela os via condenados.
Agora porém era Cecília a que ficava pensativa.
Passada a primeira expansão de alegria, que a felicidade do pai lhe despertara, acudiu a reflexão a fazê-la meditar sobre as tenções de Jenny.
Esta, que observava a amiga, chamou-a de parte.
– Que ares graves são esses, Cecília?
– Jenny, deixa-me fazer-lhe uma pergunta?
– Não; se for feita de maneira tão cerimoniosa. Vê que não é assim que eu te trato.
– Mas…
– É condição para que te escute. Fala.
– Diga-me…
A um gesto de Jenny, corrigiu, sorrindo:
– Dizes-me toda a significação disto?
– De quê?
– Desta generosa acção, que eu sinto vir da… tua inspiração?
– Então não te basta a explicação