As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 30: Capítulo 30 Pág. 144 / 174

- Então eles seguiram, e tu...

- Eu fui atrás deles. Foi mesmo assim. Queria saber o que se passava.

Vieram andando e eu sempre no encalço deles até à cancela da viúva, onde parei na escuridão e ouvi o do fato roto pedir ao outro que não matasse a viúva, mas o espanhol jurou que havia de lhe estragar a cara, exactamente como lhe contei a si e aos seus dois...

- O quê? O surdo-mudo disse tudo isso?

Huck tinha-se descaído outra vez. Queria à viva força esconder do velhote quem era o espanhol, mas a sua língua parecia decidida a traí-lo. Diligenciou sair daquela atrapalhação, mas o homem não tirava os olhos dele, e as tolices seguiram-se.

Por fim, o galês disse:

- Não tenhas medo de mim, meu rapaz. Por coisa alguma te faria mal.

Pelo contrário, quero proteger-te. Esse espanhol não é surdo-mudo; já o confessaste sem querer e, agora, não podes desdizer-te. Tu sabes qualquer coisa acerca desse espanhol e queres guardar segredo. Confia em mim. Conta-me tudo com confiança, que não te trairei.

Huck pôs o olhar dele no do velhote e, ao fim de um momento, curvou-se e segredou:

- Não ê um espanhol. É Injun Joe!

O outro quase saltou da cadeira.

- Agora sim! Agora percebo tudo! Quando falaste de cortar as orelhas e o nariz, julguei que era fantasia tua, porque os brancos nunca se vingam assim, mas um mestiço... O caso então muda de figura!

Durante o almoço continuou a conversa. O homem contou que, na noite anterior, a última coisa que ele e os filhos tinham feito antes de irem para a cama tinha sido pegarem numa lanterna e ir examinar a cancela e tudo em volta, à procura de manchas de sangue. Não tinham encontrado nenhuma, mas haviam apanhado no chão um grande embrulho de...

- De quê?

Se as palavras fossem relâmpagos não teriam saído mais velozes dos lábios de Huck. De olhos muito abertos e respiração suspensa, esperou a resposta, enquanto o outro, surpreendido, o fitou em silêncio durante três, cinco, dez segundos, replicando finalmente:

- De «ferramentas» de larápios. Porquê? Que tens tu?

Huck encostou-se, ainda ofegante, mas dando graças pelo que ouvia. O velhote olhou-o com ar grave e curioso, acrescentando pouco depois:

- Parece-me que isto te deu um certo alívio. Por que te transtornaste assim? O que pensaste que tínhamos encontrado?

Num momento daqueles, com o olhar inquirido r do velho posto nele, Huck daria tudo para que lhe ocorresse uma resposta plausível, mas não lhe acudiu nada à ideia, e o outro não deixava de o olhar.





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