A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 14: XIV Pág. 216 / 508

Vejo lavrar uma hostilidade entre Lena e o Sr. de Souselas, que me dá sérias inquietações.

- E eu julgo que não. Ao que ouvi ao Henrique, a primeira vez que viu a nossa Lena no Mosteiro!... - disse D. Doroteia, com toda a indiscrição da sua ingenuidade.

Madalena procurou acudir a tempo à corrente das revelações, a que viu disposta a boa senhora.

Veio oportunamente em seu auxílio Ângelo, que, tendo feito uma digressão pela sala do refeitório, voltou com a alegre nova de que a ceia estava na mesa.

O anúncio foi recebido com aparente entusiasmo. Suspenderam- se trabalhos, quase completos, ultimaram-se à pressa outros, e a companhia dirigiu-se para o corredor.

Pouco depois de Ângelo, chegou D. Vitória, desmentindo-o e pretendendo suster a corrente, que ameaçava invadir a sala, que ela ainda não dera por pronta. Já não era tempo. O conselheiro, tomando duas crianças ao colo, rompia a marcha, e atrás dele até a pacífica D. Doroteia clamava insubordinada que não recuaria um passo.

E falando e rindo assim entraram na sala.

Estava ofuscante de luzes, esplêndida de louças e baixelas, enfeitada de flores e de cristais e enevoada dos vapores das iguarias.

Houve um grande rumor de cadeiras arrastadas, uma confusão e incoerência de ordens de D. Vitória para marcar lugares, infracções destas ordens, que a impacientavam, como se com isso pudesse perigar a ordem natural e social do Mundo, e, como justa consequência, caía sobre a cabeça dos criados uma enfiada de recriminações, que eles por hábito já sofriam com exemplar paciência.

Restabelecida, enfim, a ordem, procedeu-se à ceia.

Ceia de Natal! Abençoado banquete, ao qual todos se devem sentar nas mesmas disposições de ânimo em que ordenava Cristo estivessem os que





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